Lil Paiva 10/02/2012
O Ateneu
Nove anos depois relata o autor, Raul D'Ávila Pompéia, o visto na personalidade de seu diretor, Dr Aristarco Argolo de Ramos: A ética e a moral falha de um renomado pedagogo. De início, Sérgio, imaginava o diretor como uma extensão do seu pai, porém percebera que Aristarco não era nada do que demonstrara na sua política de "ensino com afeto", seu principal "marketing chamariz". Afeto este, divulgado pela afamada intituição.
Aristarco tratava o ensino como um comércio, segundo o autor. - O Ateneu era o grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido réclame, mantido por um diretor que de tempos em tempos reformava o estabelecimento...como os negociantes que liquidam para recomeçar...O Ateneu desde muito tinha consolidado crédito na preferência dos pais, sem levar em conta a simpatia da meninada...(p.8, 4ºparágrafo)
Aristarco, na expressão olímpica do semblante transpirava a beatitude de um gozo superior. Gozava a sensação prévia, no banho luminoso, da imortalidade a que se julgava consagrado. Devia ser assim: - luz benigna e fria, sobre bustos eternos, o ambiente glorioso do panteão. A contemplação da posteridade embaixo.- Neste trecho, Sérgio via em Aristarco uma moralidade de realeza, porém também humanizado de forma caricaturada, no que vem a seguir- Aristarco tinha momentos destes sinceros. O anúncio confundia-se com ele, suprimia-o, substituía-o, e ele gozava como um cartaz que experimentasse o entusiasmo de ser vermelho.(p.15)
Sérgio demonstra que Aristarco e o Ateneu era um só personagem, como alguns críticos descrevem: Naquele momento, não era simplesmente a alma de seu instituto, era a própria feição palpável, a síntese grosseira do título, o rosto, a testada, o prestígio material de seu colégio, idêntico com as letras que luziam em auréola sobre a cabeça. Sa letras, de ouro; ele, imortal: única diferença. (p.15). - portanto, se o Ateneu era imoral deviasse ao seu diretor.
Como agia o diretor, diante do cliente de mais valia. - Aristarco levantou-se ao nosso encontro e nos conduziu à sala especial das visitas. Saiu depois a mostrar o estabelecimento, as coleções, em armários, dos objetos próprios para facilitar o ensino. (p.19)
Conduta mutável diante doas alunos cujos pais atrasava o trimestre. Mudava o modo de recepcionar, a ponto do aluno se perguntar o que haiva feito de errado. - Ele tinha maneiras de todos os graus, segundo a condição social da pessoa. As simpatias verdadeiras eram raras. No âmago de cada sorriso morava-lhe um segredo de frieza que se percebia bem... Às vezes, uma criança sentia a alfinetada no jeito da mão a beijar. Saía indagando consigo o motivo daquilo. Que não achava em suas contas escolares...(p.19)
Registro da moral "pré-existente" no Ateneu - Outro quadro vidraçado exibiam sonoramente regras morais e conselhos muito meus conhecido de amor à verdade, aos pais e temor de "deus" que estranhei como um código de redundância (p.19) - Ainda neste período da estória o aluno vê em Aristarco a continuidade da família.
Ilustração de D. Ema, mulher do diretor, com ênfase, nos trajes não adquados para uso dentro de uma escola. Reflexão para os valores morais atemporal: Bela mulher em plena prosperidade dos trinta anos; formas alongadas por graciosa magreza, erigindo, porém, o tronco sobre quadris amplos, forte como a maternidade; olhos negros, pupilas retintas, de uma cor só, ... Vestia cetim preto justo sobre as formas, reluzente como pano molhado; o cetim vivia com ousada transparência a vida oculta da carne. - (p.16)
Sérgio contra-ataca a imoralidade a ele infligida até então, também de forma imoral, conseguênte do meio que vive. Ataca no bigode de Aristarco, tanto descrito, imponetemente, nas primeiras páginas. Uma mostra sem punição prática do atacado,a ver neste discurso direto (p.104):
- Fui primeiro tocado!
-Criança! feriste um velho!
-Fui vilmente injuriado,...
-Ah! meu filho, ferir um mestre é como ferir ao próprio pai, e os parricidas serão malditos.
E o que mais imoral e realista que a narração do assassinato no colégio e a descrição e remoção do corpo, de forma naturalista, mostrado nesta parte da obra: Caído no soalho, vi o cadáver sobre uma esteira de sangue. Guardava ainda o contorno da esquerda da agonia; à boca fervia-lhe um crivo de espuma rosada; trajava colete fechado, calças de casimira grossa. Os ferimentos não se viam. Os olhos estavam-lhe inteiramente abertos e de tal maneira virados que me fizeram estremecer. (p.62)
Alguns minutos depois de minha entrada, chegaram dois sujeitos com uma rede. Os copeiros ajudaram a apanhar o corpo. Os homens da rede os levaram. Cenas expressionistas.
Um pouco de parnasianismo para narrar o imoralismo: Sanches estava feito. Penetrou comigo até os últimos albergues da metrópole, até a coacla máxima dos termos chulos. Descarnou-me em caricatura de esqueleto a circunspeção magistral do Lexicon, como poluíra a elevação parnasiana do poema. (p.36)
O professor Venâncio lecionava também inglês; escapei-lhe às garras, felizmente: uma fera! chatinho sobre o diretor, terrível sobre os discípulos; a um deles arremessou-o contra um registro de gás, quebrando-lhe os dentes.(p.112) - conduta do professor, sem a justiça, a questão central das preocupações éticas.
A degeneração em massa, para a bananada induzida pela corrupção: Era indústria secreta a goiabada de bananas, segundo Aristarco... Os inspetores chegaram aterrados a procurar o diretor, mostrando a cara salpicada de verrugas vermelhas. Adivinhei. Era a revolução da goiabada! Uma velha queixa...disse Sérgio - moral Uma amostragem do fio de Aristarco! Este veio ao motim e disse, para não vim a falência econômica do estabelecimento, com a expulsão de todos: " Mas por que meus amigos, não formularam uma representação? A representação é o motivo reduzido à expressão ordeira e papeliforme! Qual a necessidade da representação por assuadas? "Entrava-lhe a justiça pelos bolsos como um desastre 'moral' " Nesta casa não há misérias!...Aqui tem as latas...Mais latas... leiam o rótulo... Como podia eu suspeitar...Até hoje estava convencido que a goiabada era de goiaba...Quando alguma coisa faltar, reclamem, que aqui estou eu para providênciar, vosso mestre, vosso pai!... - disse Aristarco(p.107)
"Ah! meus amigos, concluiu ofegante, não é o espírito que me custa, não é o estudo dos rapazes a minha preocupação... É o caráter! Não é a preguiça o inimigo, é a imoralidade!" (p.20) E assim se valia a boa imagem do Ateneu... Mesmo com toda a imoralidade, Sérgio acredita que o internato é útil: a existência agita-se como a peneira do garimpeiro: o que vale mais e o que vale menos separam-se. Não é o internato que faz a sociedade; o internato a reflete. (p.124) - Ou seja, o mundo não se resume ao Aristarco e ao colégio Abilio, "O Novo Mundo" já se fez imoral nos tempos da corte!