Simone.GAndrade 20/01/2019
“Crônica de saudades”
Frase famosa: “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta.”
A história se passa no século XIX, na cidade do Rio de Janeiro. O enredo foi inspirado na própria história do escritor Raul Pompéia que esteve num internato, o Colégio Abílio, dirigido por Abílio César Borges, o Barão de Macaúbas. Um romance moderno, a obra é considerada autobiográfica, o qual revela o moralismo e o ambiente corrupto em que ele próprio viveu, numa sociedade cheia de normas rígidas e conservadora. A leitura é bem complicada, devido a escrita do autor ser bem rebuscada, alto nível de descrição e detalhamentos, além de várias referências literárias.
Narrado em 1º pessoa, Sérgio o narrador-personagem relembra o período em que passou como interno no Ateneu, instituição famosa da época, sinônimo de status. Lá viveu um período de reclusão, solidão, transformação e amadurecimento, um “cárcere, murado de desejos e privações”. Ali, ele aprende desde cedo mediante uma rígida disciplina, diversos aspectos da sociedade, aliados ao moralismo e à perversão das instituições. No Ateneu foi submetido a humilhações públicas, castigos severos, aplicados contra os alunos que não correspondiam aos resultados esperados, sofre maus-tratos tanto do diretor do colégio, como de outros alunos mais "fortes", nas palavras de Rabelo os rapazes tímidos e ingênuos eram impelidos para o " sexo da fraqueza", dominados e pervertidos como "meninas ao desamparo". O livro tem um tom homossexual, discreto e alusivo. E a necessidade da convivência faz com que Sérgio se aproxime de alguns alunos, mas suas relações são sempre curtas, um exemplo é quando se aproxima de Barreto, aluno extremamente religioso, com suas narrativas de iluminado terrífico, desperta nele uma aversão a religião, “Comecei a achar a religião insuportável melancolia. Morte certa, hora incerta, inferno para sempre, juízo rigoroso: nada mais negro!” Com seu amadurecimento a verdadeira realidade do colégio se apresenta ao pequeno colegial. “Ensaiados no microcosmo do internato, não há mais surpresas no grande mundo lá fora, onde se vão sofrer todas as convivências respirar todos os ambientes; onde a razão da maior força é a dialética geral, e nos envolvem as evoluções de tudo que rasteja e tudo que morde...” onde se aplica a verdadeira lei dos mais fortes. É preciso persistência para terminar o livro, com certeza terá uma releitura num futuro não muito distante.