Leonel_VII 02/03/2021
Belregard, cenário muito bom!
Belregard é um livro robusto que descreve um cenário de campanha de RPG homônimo (desenvolvido por brasileiros), em suas várias nuances, é um cenário medieval, porém não de fantasia, ele retrata um ambiente similar ao da Europa medieval (a idade das trevas), com nobres arrogantes, opulentos e depravados, uma igreja que se comporta pouco melhor que os nobres sendo extremamente autoindulgente, mas pregando e exigindo retidão de outras pessoas, usando inclusive os agentes do ‘santo ofício’ (grupo que atua de maneira análoga a inquisição) para isso.
O cenário é muito bem descrito, são quase trezentas páginas (a maior parte do livro) voltadas apenas para a descrição, do mundo, da cultura, dos reinos, cidades, povos, forças militares, políticas e religiosas que compõem uma intrincada trama social. A atmosfera descrita é lúgubre, abordando a temática de terror/horror pessoal e danação eterna, que pode vir tanto pelos atos profanos e impensados quanto pela queda na espiral da loucura, ou as duas coisas ao mesmo tempo. ‘A sombra’ (uma representação da maldade e da depravação) está sempre presente em maior ou menor grau no coração da humanidade sendo usada como um elemento a mais de terror.
O sistema tem um funcionamento simples, um foco mais narrativo, mas sem deixar de lado a consistência das regras, os testes consistem geralmente na rolagem de dados de seis faces (D6), normalmente um número de dados igual a soma dos valores de um atributo e uma especialização, sendo considerados ‘sucessos’ valores acima de três. A resolução de ações parece ser bem rápida e descomplicada. Os elementos para criação e desenvolvimentos de personagens e regras são abordados na parte final do livro (pouco mais de cinquenta páginas) e são bem apresentados, embora de forma resumida (trata-se na verdade do sistema oriundo do livro Crônicas RPG – um livro que apresenta um sistema que pode ser usado em jogos de fantasia). Mesmo num espaço curto o sistema traz várias características para uma criação de personagens interessantes e complexos.
O livro é sem dúvida muito bom, muito bem escrito e feito para passar a atmosfera do ambiente, o texto quase sempre é marcado em cores escuras sobre um fundo cinza, embora condizente com o cenário, causa um certo desconforto para a leitura (para mim foi um pouquinho cansativo), há alguns trechos que visam relatar o entendimento de outros personagens sobre o que é escrito, de modo que há uma série de escritos num ou noutro canto das páginas com essas opiniões e algumas breves interações com o redator do ‘tomo’, esses textos sem dúvida enriquecem o cenário, todavia as fontes usadas as vezes dificultam um pouco a leitura (devido sua aparência similar a escrita cursiva, em alguns momento causa uma dificuldade de identificar letras). As imagens são bem executadas, em linhas bem definidas e escuras sobre o fundo cinza do livro, representando lugares, pessoas, situações e etc, porém seria bom que algumas delas fossem feitas pelo menos em tons de cinza, talvez se sobressaíssem mais.