O Bode Expiatório

O Bode Expiatório René Girard




Resenhas - O Bode Expiatório


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Paulo Silas 02/03/2017

As origens da violência humana (em todas as suas formas) por meio do mimetismo é o tema sobre o qual René Girard se debruça. Mais precisamente nessa obra, o conceito de bode expiatório é construído e explanado a fim de se buscar as razões da estigmatização persecutória. Através de uma (re)análise dos mitos, o autor lança uma visão própria que aponta para uma estrutura sempre presente na mitologia e na história que acaba por conceituar o bode expiatório.

O bode expiatório acarreta numa ilusão persecutória. Os perseguidores acreditam sempre na culpa de suas vítimas, seja essa existente ou não. Essa afã persecutório se faz presente em várias fases da história, podendo ser contextualizadas ao se analisar a mitologia. Girard ilustra com Édipo, o qual foi expulso de Tebas por ter sido apontado como o responsável pela peste que assolou a cidade. Os problemas teriam surgido diante do fato de ter Édipo matado seu pai e casado com sua mãe. A ilusão persecutória ali se instaurou: o bode expiatório é o cordeiro que deve ser afastado, a fim de que a "purificação" seja procedida e os perseguidores sejam salvos.

Vários outros exemplos são dados pelo autor a fim de construir e dar embasamento para o seu argumento. As críticas recebidas pelo seu argumento são expostas pelo próprio, de modo que René Girard as enfrenta no intuito de vence-las e manter o seu posicionamento.
Os evangelhos bíblicos também servem como fonte de busca e pesquisa do autor, evidenciando assim a presença constante da figura do bode expiatório.

Conforme aduz René Girard, "as minorias étnicas e religiosas tendem a polarizar com as maiorias", de modo que "quase não existem sociedades que não submetam suas minorias [...] a certas formas de discriminação". Daí que o ponto de partida do autor na obra se dá com um exemplo de culpabilização dos judeus, quando foram acusados de terem envenenado os rios quando da peste negra no século XIV. A existência do bode expiatório, desse modo, faz-se de maneira concreta, tanto na mitologia como na história, ou seja, em toda e qualquer sociedade é possível observar o processo persecutório que enseja no bode expiatório. Os motivos determinantes podem ser diversos. Assim pontua o autor:

"Ao lados dos critérios culturais e religiosos, há os puramente físicos. A doença, a loucura, as deformações genéticas, as mutilações acidentais e até as enfermidades em geral tendem a polarizar os perseguidores. Para compreender que temos aí algo de universal, basta olhar ao redor de si ou mesmo dentro de si próprio"

Assim, o que se vê presente na obra é que o processo persecutório está sempre em voga: no texto, na sociedade, na história, na mitologia... As perseguições coletivas se dão contra o bode expiatório. A vítima é um bode expiatório. Os "estereótipos da perseguição em um texto" são compreendidos pela leitura da obra.

Um livro profundo e revelador. A exposição da presença constante da figura do bode expiatório em toda e qualquer sociedade. A compreensão de uma análise pelo viés proposto pelo autor se faz possível com a leitura da obra - daí que vale muito a pena conferir.
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