Aguinaldo 05/02/2011
como se não houvesse amanhã
Este livro foi-me sugerido pela Daniela Santi, futura mãe da Sofia. Foi quando nos encontramos (Maurício, Daniela, Helga e eu) na Carrer de la Princesa, lá na grande feiticeira do Mediterrâneo, meses atrás. Em "Como se não houvesse amanhã" encontramos 20 contos inspirados livremente em canções da banda Legião Urbana, banda que fez muito sucesso nos anos 1980 e 1990 (e que ainda vende muito ainda hoje e certamente tem fãs Brasil afora, bem se ouve e se vê). A idéia original é de Henrique Rodrigues. Ele convidou um grupo variado de pessoas para escrever algo que tivesse como matriz uma das músicas dos álbuns do Legião Urbana. Como eu não conheço a maioria das músicas (será mesmo que eu ouvia naquela época algo além de Frank Zappa e Miles Davis?) não saberia dizer até que ponto há simetrias entre as canções e os contos, mas se é que eu entendi bem a idéia do livro os autores não tinham que "resumir" as canções, mas sim emulá-las através deste outro registro, que é o registro literário, mas também o registro da paixão. Há contos onde há alguma experimentação, noutros o tratamento é mais quadrado, esquemático ou formal, o que para meu gosto torna o livro algo irregular. Talvez o livro funcione melhor para quem é mesmo fã da banda, mas o livro se sustenta afinal de contas, como uma boa seleção de contos de uma geração de escritores contemporâneos, quase todos bem jovens. Encontramos nos contos separações, perdas, lamentos e dúvidas. Alguns são confessionais, registros de algum encantamento. Noutro dia vi uma boa entrevista com o organizador do livro (entrevista feita pelo jornalista Maurício Melo Júnior) onde este último dizia que no livro encontrou mais o lirismo da banda que a contestação e as mensagens de fundo político, que sempre gravitaram pelas letras de suas músicas. Boa observação a dele. Talvez seja assim que a memória filtra nosso passado, amenizando com lirismo (que pode chegar a ser edulcorado, artificial e falso, não podemos nos esquecer disto) o que se imaginava alguma vez ser revolucionário, bruto e/ou transgressor. O esquecimento é mesmo um remédio que devemos tomar, cedo ou tarde, mas como todo remédio preferencialmente cedo. Bueno. "Como se não houvesse amanhã" é um bom livro, certamente para se ler ouvindo as músicas, quando for o caso de um leitor que as conheça e as ame. Os autores são: Alexandre Plosk – Que país é este; Ana Elisa Ribeiro – Andrea Doria; Carlos Fialho – Faroeste Caboclo; Carlos Henrique Schroeder – Há tempos; Daniela Santi – Será; Henrique Rodrigues – Acrilic on canvas; João Anzanello Carrascoza – Pais e filhos; Manoela Sawitzki – Giz; Marcelo Moutinho – Vento no litoral; Mariel Reis – Música de trabalho; Maurício de Almeida – Sagrado coração; Miguel Sanches Neto – Meninos e meninas; Nereu Afonso da Silva – Ainda é cedo; Ramon Mello – Sereníssima; Renata Belmonte – Por enquanto; Rosana Caiado – Eduardo e Mônica; Sérgio Fantini – Música Urbana 2; Susana Fuentes – Quando o sol bater na janela do seu quarto; Tatiana Salem Levy – Tempo perdido; Wesley Peres – Monte Castelo. [início 17/08/2010 - fim 23/10/2010]
"Como se não houvesse amanhã", Henrique Rodrigues (org.), editora Record, 2a. edição (2010), brochura 13,5x21 cm, 159 págs. ISBN: 978-85-01-08943-4