spoiler visualizarJoão Pedro Mendes 02/02/2024
Excelente parte da história
No livro "Os Ossos das Colinas", vemos a terceira parte da história de Gengis Khan e sua linhagem, contada em 5 volumes pelo habilidoso Conn Iggulden.
Em muitos aspectos, o terceiro livro supera o segundo, mas em alguns outros, fica um pouco aquém de seus dois antecessores, principalmente do primeiro, que é imbatível!
Falando primeiramente dos aspectos negativos, aqui senti alguns personagens mais esquecidos do que nunca, questão que já havia me incomodado no segundo volume. Grande parte da aventura nas terras chinesas, no segundo livro, foi em função de encontrar um habilidoso construtor para o cã, e esse personagem simplesmente não aparece mais.
Koke e Enq completamente esquecidos, não se sabe o que aconteceu com eles. As águias que Gengis tanto fez questão de obter no passado... esquecidas... Jamuka (aqui estranhamente chamado de Samuka !?!?), personagem importante na vida de Gengis, desempenha um papel pequeno e esquecível.
O brilhante soldado Ho Sa, que havia sido um excelente personagem novo no segundo volume... descartado aleatoriamente.
Enfim, triste.
Dando sequência, a apresentação do magnífico Jebe foi muito decepcionante. Na história, há uma mítica em volta de sua chegada na vida de Gengis Khan, já que teoricamente Jebe havia sido um inimigo de Gengis, mas que acertou uma flecha de raspão no olho do coquistador. Desse modo, admirado com a habilidade do arqueiro, Gengis o transformou em um de seus generais. Se essa história é verdade ou não, não se sabe, mas aqui (numa ficção histórica) seria o lugar perfeito para a presença dessa historinha. Jebe tem uma excelente participação, mas sua apresentação poderia ter sido bem mais legal.
Além disso, como último ponto negativo, posso citar a insistência que o autor tem em mostrar pontos de vistas de outros personagens desinteressantes, problema que existe desde o segundo volume. Os soldados russos do início do livro... o personagem Inalchuk... a leitura seria mais interessante se víssemos mais dos pontos de vista de personagens mais familiares, como Jebe, Jelme, Kachiun ...
A boa notícia, é que em um personagem em específico, essa tática funciona. Ver o ponto de vista do príncipe Jelaudin é bastante interessante, e nos dá uma perspectiva diferente sobre os Árabes e sobre os pensamentos e dificuldades do maior oponente de Gengis naquele momento.
Superados os pontos negativos, entremos nos positivos, que, felizmente, são em maior quantidade.
O desenvolvimento da relação entre Gengis e seus filhos, bem como da relação dos filhos entre si, é extremamente explorado e bem escrito. A rivalidade entre Jochi e Chagatai é visceral, e tão raivosa quanto era a de Gengis e seu irmão Bekter no primeiro livro. Fantástico!
Ver os tumans comandados por Tsubodai, Jochi, Jelme e Jebe, além do maravilhoso Kachiun, é uma experiência de leitura visceral e fascinante. O nome de Tsubodai, principalmente, sempre salta aos olhos quando é lido, pois este é (juntamente com Kachiun) o personagem mais interessante da série. O maior e mais brilhante general de Gengis é um personagem muito bem desenvolvido, cheio de dilemas morais e pessoais, que, contrastando com sua implacabilidade, o tornam um personagem muito humano.
Por último, preciso falar dos fins de alguns personagens, que me agradaram ou não. O fim de Jochi, apesar de súbito, era esperado, e ter sido pelas mãos de Tsubodai conferiu complexidade ao desenvolvimento do general. Excelente!
O fim de Arslan, o primeiro seguidor de Gengis, foi realista e justo, mas mal escrito. Tive que voltar na leitura para entender que havia morrido. O personagem sequer estava presente nas páginas anteriores, o que fez com que sua morte parecesse deslocada. Poderia ter sido melhor.
Por fim, o fim de Gengis. Apesar de ser como aconteceu na vida real, sua assassina deveria ter sido melhor trabalhada no terceiro volume. Chakahai, a segunda esposa de Gengis, nunca demonstrou ressentimento ou raiva pelo seu marido, até mesmo o aconselhou em muitas decisões e foi uma companheira agradável para o cã durante a vida. O assassinato de Gengis ter acontecido pelas mãos dela pareceu apressado e aleatório, mas mais por falta de desenvolvimento das motivacoes da personagem do que por qualquer outra coisa. Talvez poderíamos ter visto partes com o ponto de vista de Chakahai, em vez de outros personagens.
Apesar de alguns problemas aqui e ali, como mencionado acima, o livro é uma obra excelente, como todos os anteriores, e a leitura é tão divertida e instigante quanto a dos antecessores.
A experiência é extremamente positiva, e a história como sempre, magnífica.
Fantástico!