Ivy (De repente, no último livro) 16/08/2020
Resenha do blog "De repente no último livro..."
O bacana deste livro é que ele não tem um protagonista absoluto. Todos os personagens são fundamentais e todos ganham seu destaque. Ao mesmo tempo, fica no ar a sensação de que qualquer um poderá ser a próxima vítima ou até mesmo o grande culpado.
Eu achei essa trama incrível. A escrita do Alex North é sombria e muito envolvente, a trama parece uma mistura de "O Sexto Sentido" com "O Iluminado" e cada detalhe vai se tornando aos poucos cada vez mais apavorante. Foi de arrepiar como uma premissa que poderia ter sido mais comum foi se tornando bem única e original ao longo de cada capítulo, e outro detalhe que ganha o leitor é que as emoções e sustos não param de acontecer. North não reserva o maior impacto apenas para o final, mas ele permite que possamos ir descobrindo pequenas peças aos poucos, conforme os capítulos avançam o quebra cabeças que ele vai montando apresenta tantas probabilidades que é bem difícil ter apenas um suspeito.
Eu praticamente cheguei a desconfiar de todos os personagens, e o final foi uma cartada de mestre. Foi inteligente, foi brilhante e foi completinho, fechando todas as muitas pontas soltas que a trama apresentou.
A narrativa está na terceira pessoa e em cada capítulo foca em um personagem, o que nos permite conhecer praticamente todos os de importância e ter uma visão bem geral e imparcial de tudo o que vai acontecendo. A narrativa é simples, direta, firme e carregada de um tom bem sombrio, e foi possível até visualizar cada personagem, cada situação, de tão imersa que fiquei nessa trama.
Um dos pontos que vale a pena comentar também é a ambientação. A cidadezinha de Featherbank consegue se apresentar como um lugar pacato que aos poucos vai ganhando um contorno bem mais macabro. Nada é o que parece. E embora tenhamos poucas descrições da cidade em si, os cenários principais onde as coisas acontecem estão bem detalhados, e cada detalhe tem a sua importância.
O que mais aprecio neste livro foi notar que o final manteve o mesmo ritmo da leitura. Sem pressa, o autor vai apresentando um finalzinho bem coerente e angustiante, que faz a gente roer as unhas em antecipação ao que está por vir. North me enganou direitinho e conseguiu ir além das possibilidades com este final. Fiquei bem satisfeita com o desfecho e me vi super envolvida praticamente devorando cada página, para não perder nada. O Homem-Sussurro faz a gente sentir um pouquinho de medo, angústia, indignação e por fim bastante tensão, sempre temendo pelos personagens.
Em suspenses é bem difícil para mim me afeiçoar aos personagens e sofrer por eles. Os personagens de livros de suspense tendem a agir de maneira mais fria, impessoal e suspeita, e por isso mesmo a gente fica no receio de se apegar, mas aqui os personagens são tão variados e complexos que a gente acaba torcendo por alguns.
Pete é um detetive incrível, mas luta contra o alcoolismo que destruiu sua família e o tornou um homem solitário. Eu adorei o Pete porque ele não é nenhum grande herói invencível, ele se martiriza bastante por não ter encontrado o cadáver do garotinho de vinte anos atrás e a vitória dele prendendo o Homem-Sussurro sempre teve um sabor meio agridoce para Pete por conta disso. O Pete foi meu personagem favorito porque ele é cheio de sentimentos e de conflitos internos, e ele luta o tempo inteiro para não se render aos seus vícios, ao mesmo tempo em que ele é brilhante investigando. Enfim, achei o personagem super interessante e fora do comum.
O Tom também me surpreendeu. Ele, em princípio parece um cara reduzido ao luto e bem confuso porque não consegue entender o Jake. Tom se sente muito frustrado e para o leitor fica bem nítida essa frustração. Mas o bacana é que apesar de não entender o Jake, ele ama o filho incondicionalmente e isso fica bem nítido ao leitor. Tom é muito humano, e falho também, e isso nos faz gostar dele.
Temos também o Jake, que é um garotinho super maduro mas ao mesmo tempo se comporta de maneira coerente para uma criança de sete anos. Jake sente medo, reage de maneira emocional e parece perceber coisas que os adultos não entendem. Jake deu um nó na minha cabeça porque a gente fica na dúvida se ele tem algum trauma que o faz ver coisas, se o que ele vê é real ou se a trama vai ganhar contornos paranormais. Jake foi um personagem bem incrível, eu gostei bastante dele e de sua construção e evolução.
Há vários outros personagens que vão tendo destaque na trama, como a Amanda, que é a outra detetive do caso. No começo a gente conhece pouco da Amanda e ela é apresentada como uma policial ambiciosa, preparada para subir na carreira. Mas conforme o caso vai ficando mais emocional, Amanda vai mostrando outros traços de seu caráter, um lado mais feroz e determinado, um lado mais cheio de paixão e sede de justiça. Ela passa por uma metamorfose bem interesse na trama, e isso reflete na sua interação com o Pete, que se inicia com Amanda se sentindo desconfiada, até mesmo competitiva, e aos poucos vai evoluindo para uma relação de camaradagem e companheirismo.
Os outros personagens secundários também se destacam em seus momentos cruciais, incluindo os suspeitos que vão passando pela trama para deixar aquele sementinha de dúvida no leitor, e todos foram extremamente bem construídos, conseguindo despertar em mim muita suspeita e dúvida.
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