Raphael.Bottino 07/07/2024
A destruição dos "pequenos pelotões" (familiares, amigos, amores etc.), que são as relações mais próximas que temos em vida e que possuem um papel nevrálgico no nosso caráter, impedem o desenvolvimento da consciência moral dos cidadãos.
As relações sexuais frívolas com outras pessoas, com a consequente objetificação de seus corpos, tornam as pessoas cada vez mais inócuas e vazias.
Os prazeres supérfluos e imediatos garantidos pelo Estado tiram das pessoas o senso de objetivo e planejamento, que são responsáveis por nos mover e intensificar nossas vidas.
Isso sem falar obviamente nas drogas recreativas, extremamente incentivadas, responsáveis por dulcificar as pessoas e impedi-las de experimentar e aprender a lidar com suas emoções de uma forma adulta.
O governo é responsável por cercear a liberdade individual dos cidadãos, sob os auspícios de supostamente garantir o bem-estar de todos e da sociedade de uma forma geral. Ações que possam colocar a dita sociedade em risco são repreendidas e, o pior, também são defenestradas por seus cidadãos alienados e assim condicionados.
Parece que estou falando da nossa sociedade atual, mas na verdade é uma resenha do livro "Admirável Mundo Novo".
O livro se passa em um futuro distópico controlado por um Estado opressor, assim como em "1984" e em "Fahrenheit 451".
A sociedade é condicionada geneticamente e dividida em grupos considerando as necessidades do Estado e a subdivisão de tarefas para desígnios da manutenção do ambiente em que vivem.
Os valores individuais não existem.
É lógico que há exageros na forma como o livro expõe alguns tópicos, contudo, se tratarmos como analogias a situações que vivenciamos na vida real, faz muito sentido; O condicionamento de eliminação de significação e importância da morte no livro me lembrou muito os programas televisivos sensacionalistas que temos, que tratam isso como uma forma de buscar audiência e nada mais. As repetições de frases ao longo da infância apresentadas no livro para consolidar o que querem que você aprenda, por mais que não seja correto, me lembraram muito as publicidades e celebridades que vemos hoje propagando a cartilha do politicamente correto para você engolir goela abaixo.
Além disso, o livro retrata que o que foi feito no passado (livros, por exemplo) deve ser jogado no lixo e o futuro não deve ser pensado, para que as pessoas não experimentem sentimentos complexos ('O "fui e "serei" me deixam doente. Um grama, e com o "sou" fico contente.').
O final do Selvagem, na minha visão, era inevitável. Por mais que tente, a pressão dessa sociedade é arrebatadora. Gostei bastante do diálogo dele com o Administrador Geral.