Teco3 21/10/2020
"Quem, se eu gritasse, entre as legiões dos Anjos me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo senão o grau Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo Anjo é terrível."
Assim começa Elegias de Duino, obra prima Rilkeana, base de boa parte de todo existencialismo do século XX. Apesar de ser uma poesia um tanto quanto hermetica, aquilo que de abstrai antes mesmo da leitura dos comentários da tradutora, dá dimensão do desalento existencial que o poeta traz com lirismo.
Elegias de Duino começou a ser escrita um pouco antes da Primeira Guerra Mundial e só ficou pronto anos depois de seu fim, pois Rilke enfrentou uma crise depressiva durante o período. Tendo influenciado grandes obras posteriores como o livro Náusea do Sartre, a obra traz um grande reflexão sobre vida e morte não como um dueto, mas, sim, como início e fim de uma mesma música que consegue ser terrível e maravilhosa em igual medida. O poeta nega o cristianismo, mas faz apologia a metafísica, a algo superior, místico, que chama de anjo, representação do eterno, daquele que é fim em si mesmo. Rilke parece desacalentar o leitor para depois acalentá-lo. Me parece que preciso de algumas releituras para melhor penetrar nesse autor.