Bartleby e companhia

Bartleby e companhia Enrique Vila-Matas




Resenhas - Bartleby e Companhia


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Leila de Carvalho e Gonçalves 10/04/2021

A Literatura Do Não
?A glória ou o mérito de certos homens consiste em escrever bem; o de outros consiste em não escrever.? (Jean de La Bruyère)

De Enrique Vila-Matas, Bartleby E Companhia é um livro sem começo nem fim, sem desenvolvimento de personagens nem enredo. Trata-se de um longo ensaio, ou melhor, 86 notas de rodapé numeradas de um texto invisível que abordam obras literárias reais ou imaginárias cujos autores nunca escreveram, juraram não escrever novamente, sofreram bloqueio criativo, ou são extremamente reservados.

Portanto, o livro gira ao redor do silêncio na literatura, a impossibilidade e esgotamento que coloca em risco seu futuro, e quem o assunto leva à pauta é Marcelo, um corcunda recluso e misógino que chega a perder o emprego em virtude da obsessão pela ideia.

Esta ?literatura do não? reporta ao título do livro que leva o nome do protagonista de um conto Herman Melville: Bartleby, Um Escrivão. Ele é um jovem amanuense judicial que, cansado do trabalho burocrático, ?decide adotar a negativa como lema e o nada como estilo de vida?. Por sinal, ?Eu preferia não fazer?, repetida inúmeras vezes pela personagem, transformou-se num símbolo da desobediência através da revolta passiva que expõe o contrassenso entre poder e livre arbítrio. Por sinal, deixo a sugestão da prévia leitura ou releitura da narrativa antes deste ensaio.

Cabe registrar a surpreendente a bagagem literária de Vila-Matas, representada por uma longa lista de nomes bastante conhecidos e outros pouco conhecidos, ao menos em nosso país, como Daniele Del Giudice, Joseph Joubert e Marcel Maniere. Por sinal, um desconhecimento que creio ser recíproco, pois o escritor espanhol não menciona o brasileiro Raduan Nassar, renomado autor de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera, que em 1984 largou a literatura para ser fazendeiro no interior de São Paulo.

Enfim, Bartleby e Companhia é um livro incomum, capaz de provocar estranheza e, ao mesmo tempo, fascinar o leitor, a despeito de arrastar-se em alguns momentos. Recomendo para quem mantém uma estreita relação com a literatura e, tal como eu, questiona seus caminhos.

?Há alguns homens misteriosos que só podem ser grandes. E por quê? Nem eles mesmos sabem. Por acaso quem os enviou sabe disso? Têm na pupila uma visão terrível que nunca os abandona. Viram o oceano como Homero, o Cáucaso como Ésquilo, Roma como Juvenal, o inferno como Dante, o paraíso como Milton, o homem como Shakespeare. Ébrios de sonho e intuição em sua marcha quase inconsciente sobre as águas do abismo, atravessaram o raio estranho do ideal, e este os penetrou para sempre? Um pálido sudário de luz cobre-lhes o rosto. A alma lhes sai pelos poros. Que alma? Deus?.
Quem envia esses homens? Não sei. Tudo muda, exceto Deus. ?Em seis meses, até a morte muda de figurino?, dizia Paul Morand. Mas Deus jamais muda, digo a mim mesmo. É bem sabido que Deus se cala, é um mestre do silêncio, ouve todos os pianos do mundo, é um consumado escritor do Não, por isso é transcendente. Não posso estar mais de acordo com Marius Ambrosinus, que disse: ?Em minha opinião, Deus é uma pessoa excepcional?. (Página 23)

Nota: Adquiri o e-book e recomendo.
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Andrea 23/06/2021

O não escrever
No dia 08 de julho de 1999 o narrador resolve iniciar um diário que mistura um pouco da sua vida e dos chamados bartlebys, nome inspirado no escrivão Bartleby, personagem de um conto do escritor Herman Melville, que respondia "Acho melhor não" para qualquer coisa que lhe pedissem.

Nos casos dos bartlebys de Enrique Vila-Matas são escritores, como J.D. Salinger e Robert Walser, que escolheram o silêncio oral e escrito após conquistarem a fama, sendo que alguns chegam ao ponto de fugirem de qualquer contato que implique falar sobre o seu trabalho, enquanto outros transformam isso em uma espécie de piada particular.

Em menos de duzentas páginas são relacionados textos que levam ao Não escrever, os possíveis motivos, as estratégias de quem resolveu simplesmente fugir do mundo e não fornecer mais nenhuma contribuição para a literatura.

Cabe ressaltar também que a escrita de Enrique Vila-Matas é extremamente fluída, fazendo o leitor mergulhar neste lado b do mundo literário e despertando as suas próprias curiosidades e reflexões.

Um livro atemporal, se pensarmos que hoje temos como um dos grandes nomes da literatura uma pseudônimo chamada Elena Ferrante, que para seguir na escrita fugiu dos holofotes ao se esconder no anonimato.

Quer mais detalhes? Leia a resenha completa no blog: http://literamandoliteraturando.blogspot.com/2021/06/bartleby-e-companhia.html?m=1
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Paulo Sousa 14/07/2021

Leitura 14/2021 - #lista1001?
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Bartleby e companhia [2000]
Orig. Bartleby y compañia
Enrique Vila-Matas (Espanha, 1948-)
Cia das Letras, 2021, 184p.
Trad. Josely Vianna Baptista e Maria Carolina de Araújo
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?Tudo já foi dito ? sobre o que era importante e simples de dizer ? nos milênios em que os homens passaram pensando e se esforçando. Já foi dito tudo sobre o que era profundo em relação à elevação do ponto de vista, isto é, abrangente e extenso ao mesmo tempo. Hoje em dia, só nos cabe repetir. Só restam alguns poucos detalhes ínfimos ainda inexplorados. Ao homem atual só resta a tarefa mais ingrata e menos brilhante, a de preencher os vazios com uma algaravia de detalhes? (Posição Kindle 1842/79%).
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De Enrique Vila-Matas eu já li ?A viagem vertical?, romance que conta a saga do septuagenário Federico Mayol e sua derrocada ao mundo da insignificância. A narrativa é intensa, pois trata das memórias do personagem e seus eternos ecos no agora.
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Já quem leu a novela de Herman Melville, o autor de Moby Dick, deve se lembrar que ?Bartleby, o escriturário? é um texto que aborda o incomensurável e a excentricidade exacerbada na pessoa do funcionário que se nega a fazer tudo que lhe pedem, e que vai se isolando cada vez mais, até sequer sair mais do escritório onde trabalha.
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Vila-Matas cria em ?Bartleby e Companhia? uma curiosa lista de escritores que sofrem mais ou menos do mesmo mal que o personagem de Melville: a de escritores que, por algum motivo, se negaram a produzir literatura, abandonando de vez o ofício de escritor. Nas 85 ?notas sem texto?, como gosta de se referir o narrador Marcelo a seus mini-textos, vamos percorrendo uma miríade de escritores que após terem produzido dois ou três romances, ou mesmo alguns que sequer chegaram a publicar algo, disseram adeus à arte de escrever, se tornaram escritores do NÃO escrever, por julgarem improvável e descartável tal faina.
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Nessa lista, ou melhor, notas, alguns autores são bastante conhecidos e consagrados, como o próprio Melville, lista ainda abrilhantada por Robert Walser, J. D. Salinger, Franz Kafka e Nathaniel Hawthorne, e mais uma boa quantidade de escritores menos conhecidos que, sinceramente, não sei dizer se são reais ou invenção do autor catalão.
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Mas o que ficou latente nesta leitura, que gostei bastante, foram os comentários de Marcelo que discorrem sobre os vários motivos que fizeram tantos renomados romancistas optarem pelo esquecimento inveterado, por uma forma de isolamento consentida, motivos que nosso narrador busca entranhar em suas anotações, muitas delas tão curtas que até parecem ser inverossímeis, mas é interessante (e bem divertida) a criatividade de como Vila-Matas operou no livro, ligando o comportamento antissocial e nada convencional de Bartleby a escritores que, muitos já no auge da fama, chegaram à conclusão que o mundo seria bem mais saudável sem tantas páginas publicadas, sem tantas repetições inúteis e descartáveis. Se vale!!!
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Steph.Mostav 30/04/2021

"Toda literatura é a negação de si mesma"
É meu primeiro contato com Vila-Matas e adorei cada página que li desse autor com inspiração evidente na obra e no estilo de Borges, um de meus escritores preferidos. Neste livro que pode ser considerado um romance, uma coletânea de contos ou de ensaios, temos as tais "notas sem texto", já que o narrador sofre da síndrome que ele se dedica a desvendar. É a síndrome de Bartleby descreve o comportamento de autores que deixam de escrever para sempre ou sequer terminaram de escrever algum livro. Bartleby, o personagem de Melville famoso pela frase "preferia não fazê-lo", agora encarna em cada escritor que paralisa diante da página em branco ou sequer a enfrenta porque não vê mais sentido na arte, não alcança os próprios critérios altíssimos do que considera uma criação superior, porque se suicidou, entre outros motivos. A cada nota, ele discute a respeito desses bartlebys enquanto ele mesmo foge da escrita de sua própria história. Com isso, ele esboça um estudo sobre o que chama de literatura do Não com N maiúsculo e tenta nos convencer dos méritos, e não das justificativas, dessa postura de negação. Os questionamentos que ficam são muitos: seria esse silêncio um sinal de que as ideias se esgotaram e não existe mais como se expressar apenas com palavras? As palavras alguma vez já bastaram? É realmente impossível resumir a contemporaneidade através da ficção? Vila-Matas é exímio na tarefa de nos conduzir por esses ensaios-contos-fragmentos-de-romance que lembram um jogo (assim como em Borges) e usa de toda a sua extensa bagagem literária para citar autores que tenho certeza de poucos de nós ouviram falar. O que interessa não acompanhar o enredo com determinados personagens, mas apreciar a ficção como ferramenta de interpretação do mundo através da manipulação das palavras. E, ao menos para mim, a impressão que fica é de que a conclusão (se é que há alguma) de Vila-Matas é positiva, porque é através do exemplo desses bartlebys e do silêncio que eles deixaram para trás que podemos continuar nos questionando a respeito dos caminhos que a literatura ainda tem a percorrer para tentar responder perguntas sem resposta.

"A glória ou o mérito de certos homens consiste em escrever bem; o de outros consiste em não escrever"
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@emedepaula 30/05/2023

Possível melhor leitura do ano 2023
Que leitura meus caros. Um trabalho de rastreamento dos "sóis negros" da literatura, os escritores do Não. Reflexões valiosas acerca dos motivos pelos quais escrevemos ou ainda porque muitas vezes abandonamos a escrita. "Acho melhor não. Prefiro não fazer" dizia Bartleby. Reais ou fictícios, os artistas cuja pulsão negativa se vêem aversos ao ofício da palavra, não necessariamente renunciam a seu provável texto. Um texto invisível não significa que esse texto não exista, apenas que ele não se materializa no papel. Parece paradoxal mas é exatamente o que acontece nesse livro, onde lemos notas de rodapé de um texto invisível, que se escreve na mente do leitor que o produz junto as elusivas evidências de que ele pode existir e ser brutalmente real. Esse livro é um barato e eu o recomendo a qualquer pessoa cujo senso de humor e curiosidade sobre o mundo da escrita se proponha a pisar em uma terra movediça, com o perigo de ser engolida por ela ou não. "O silêncio pode ser uma conquista ou uma afirmação" Antonio Tabucchi.

Essa é provavelmente minha leitura favorita do ano. 5 estrelas é pouco. Não consegui expressar isso em palavras. Enrique Vila-Matas, trate de pagar o aluguel do triplex que o senhor alugou na minha mente. Terminei esse livro com uma sensação de contentamento, que ele me ofereceu tudo de que eu precisava. Uma liberdade enorme.
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Cassionei 30/04/2021

ENTREVISTA COM O IMPOSTOR E. VILA-MATAS
por Cassionei Niches Petry

Depois de muitos anos sofrendo do mal de Montano, visto que sempre li e escrevi muito, sofro agora da síndrome de Bartleby, pois deixei de escrever ficção e resenhas literárias, as quais, vá lá, tinham certo número de leitores. Sete, quem sabe, a conta do mentiroso. Pois de mentiras e imposturas, vamos vivendo ou sobrevivendo. Como não queria deixar passar em branco a reedição em “terra brasilis” do livro de Enrique Vila-Matas que trata da doença dos escritores que, por uma pulsão negativa, preferem não mais escrever, optei por realizar uma entrevista com o escritor, apesar de eu não ser jornalista. O próprio Vila-Matas fez muitas entrevistas no início de sua carreira, muitas delas, confessa, inventadas (seria esta uma entrevista à moda Vila-Matas?). Entrei em contato com ele por e-mail e prontamente fui atendido. Pediu que enviasse as perguntas e as responderia por escrito, afinal não está sofrendo da síndrome que criou. Embora Vila-Matas tenha como um de seus temas a impostura, sendo que um de seus romances leva esse título, acredito que foi o próprio que me respondeu, assim como, inocente, um professor de literatura acreditou que o recluso Thomas Pynchon tenha atendido seu pedido de entrevista, episódio narrado em Bartleby e companhia.


CNP: Preferiria não fazer a primeira pergunta sobre Bartleby e companhia, que a Editora Companhia das Letras está reeditando.

EVM: Preferiria não respondê-la também.

CNP: Muitas vezes o senhor assina seu nome de forma abreviada, E. Vila-Matas. Ao contrário, lê-se “Satam Alive” e as quatro primeiras letras formam a palavra “Evil”. Como Fausto, o senhor fez um pacto com algum demônio para escrever e obter sucesso?

EVM: Poderia responder que sou o próprio demônio ou um deles, porém soaria com uma de minhas tantas imposturas. Diria que ele está sempre sobre minha corcunda ditando textos, porém consigo enganá-lo, assim como engano os leitores e entrevistadores. Quanto ao sucesso, não o tenho. Sou, ao contrário do que pensam, um escritor oculto, não de culto.

CNP: O suposto nome do narrador, Marcelo, é citado somente uma vez em todo o romance, num diálogo com María Lima Mendes, por sinal, uma escritora fictícia, uma das tantas invenções no inventário de escritores do Não. O velho, solteiro, corcunda e calvo personagem tem realmente esse nome ou é mais uma pista falsa do livro, uma “pegadinha” como se diz por aqui?

EVM: Marcelo significa “pequeno guerreiro”, vem da mesma raiz de nomes como Márcio e Marcos, vem do deus Marte, deus da guerra na mitologia romana, por isso relacionado ao sangue. Não à toa deram o nome de Marte ao “planeta vermelho”, que recentemente recebeu uma visita aqui da Terra. Mas acho que isso não responde à pergunta. Como escreveu Blanchot, “a resposta é a infelicidade da pergunta”.

CNP: Em um dos capítulos, o senhor menciona um escritor português, Manuel Torga. A tradução da edição brasileira corrige para Miguel Torga. Errou o escritor ou erraram os tradutores? Manuel Torga é mais uma de suas criações?

EVM: Desconheço essa correção, não me lembro de ter sido consultado. Confesso, também, que não lembro o que escrevi. Entra, então, para as pistas falsas do romance. Seria Manuel Torga um escritor real ou inventado? Os tradutores são traidores ou coautores da obra?



CNP: Quando Bartleby e companhia foi escrito, no final do século passado, a internet ainda era um bebê de colo. Reeditado vinte anos depois, é uma obra que deve ser lida consultando se os autores realmente existem, assim como os livros mencionados e também se as citações são verdadeiras? Ou o leitor aproveita melhor o romance sem buscar essas informações?
EVM: Respondo a essa pergunta com uma citação do livro: “os escritores do Não deixaram de escrever porque há muita informação no mundo. A informação mata a literatura”. Sem trocadilho com o meu nome, por favor.

CNP: No Brasil, há muitos mais escritores do que leitores. A síndrome de Bartleby não é mais um bem do que um mal?

EVM: A pulsão negativa tem sim seu lado positivo. Paulo Coelho, por exemplo, foi quem mais fez danos à literatura e não Joyce, como ele afirmou. O que não significa que seus livros devam ser queimados, como fizeram algumas pessoas aí no Brasil, ainda mais que o motivo são suas posições políticas.

CNP: Romance (“novela”, em espanhol), ensaio, diário, notas de rodapé, relatos. Todos esses rótulos se encaixam na obra, mas acredito que a escolha por romance reivindica o caráter híbrido desse gênero, que pode abarcar todos os tipos de textos. O senhor é mestre nisso. Não é uma pergunta, é uma afirmação.

EVM: Obrigado, porém discordo do elogio. Ele me envaidece. E não há nada mais perigoso que um escritor envaidecido. É seu pior defeito. Assim como o convencimento, são sentimentos que deveriam ser abolidos da literatura. Humildade faz bem. Só não me declaro ser humildade porque isso também é falta de humildade.

CNP: “O que mais admiro nele é que foi um grande impostor”, escreve seu personagem, o escritor do Não Robert Deraim, sobre Marcel Duchamp (Marcel, Marcelo, hummmm). Quanto de impostura há no romance? E nas respostas desta entrevista?

EVM: No romance, 100%. Nesta entrevista também. Acho que de ambas as partes.

CNP: Depois de 20 anos, Bartleby e companhia poderia ter novos acréscimos, quem sabe um segundo livro, Bartleby e outras companhias (com o perdão da audácia). O nossa Raduan Nassar, por exemplo, seria um bom personagem. O senhor já pensou na possibilidade?

EVM: Se há algo em que penso a todo o momento são nas possibilidades. A literatura é a busca do possível, não há o impossível na literatura. Quanto a um segundo Bartleby e companhia, prefiro não escrever.

(Cassionei Niches Petry é professor de Literatura. Criou o blog “Uma biblioteca na cabeça” e escreveu, entre outras obras, os romances Relatos póstumos de um suicida e Os óculos de Paula.)

site: https://cassionei.blogspot.com/2021/04/entrevista-com-o-impostor-e-vila-matas.html
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jota 07/04/2016

Síndrome melvilliana
Desta vez o escritor a inspirar Enrique Vila-Matas foi o americano Herman Melville (1819-1891). Mas o suíço Robert Walser (presente em muitas páginas de Doutor Pasavento, igualmente editado pela Cosac Naify), juntamente com Kafka, Salinger e outras paixões literárias de EVM, também são citados neste volume.

Quem leu a novela de Melville (que é ótima, imperdível) foi apresentado a um mundo que aparentemente girava em torno da irracionalidade ou incoerência. Habitado que era por Bartleby, o escriturário de Wall Street que, a cada solicitação de seu patrão, respondia com um invariável "Prefiro não fazer." Negativa que aqui é, digamos, substituída por "Prefiro não escrever", e estudada à exaustão por Vila-Matas.

Através de seu singular personagem, um escritor fracassado (ou bloqueado), EVM sugere que poderia haver uma sociedade (uma companhia) que reunisse escritores que por um motivo ou outro abandonaram a literatura, disseram não à arte. Daí o título do livro: sob o tema da renúncia à escrita foram reunidas muitas histórias (quase sempre curtas) de diversos escritores que escreveram três ou quatro livros, ou até mesmo nenhum, e depois disseram adeus às letras.

Alguns são bastante conhecidos, como os já citados Salinger, Walser e Kafka, outros nem tanto. Como certa María Lima Mendes, escritora cubano-portuguesa que não conseguia terminar seu livro depois que uma personagem de seu romance pedia uma garrafa de água mineral a um garçom que a servia. Mendes usa então cerca de trinta folhas para descrever o rótulo da garrafa de água mineral, em seguida sofre um bloqueio e não consegue ir além. Pudera!

Estranhei a ausência de qualquer menção a Raduan Nassar (de Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera), que desde os anos 1980 parou de escrever para se tornar fazendeiro no interior de São Paulo (depois doou sua fazenda à USP). Se bem que até mesmo no Brasil ele não seja tão conhecido e lido, enquanto que na Inglaterra pensam que sua literatura tem parentesco com a do grande Thomas Bernhard.

Bem, como disse alguém, Édipo desconhecia que sofria do complexo de Édipo até Freud entrar em cena. Da mesma forma, Bartleby (e naturalmente seu criador, Melville) nunca soube que sua negação um dia seria tratada como uma síndrome típica de escritores. Foi EVM que a denominou síndrome de Bartleby. Que se manifesta como o bloqueio frente a uma folha em branco, o medo do fracasso, a vontade de desaparecer do mundo, a certeza da inutilidade da arte etc.

Inúmeros autores são rastreados nas páginas de Bartleby e Companhia (penso que todos sejam reais mas não pesquisei para constatar isso); nem sempre suas histórias são lá muito interessantes, algumas são até mesmo insípidas. Entende-se, claro, que este não é um romance de estrutura tradicional, como também não é Doutor Pasavento (único que eu havia lido antes) e, suponho, as demais obras de Vila-Matas.

Acho que seus livros (esses que li) dialogam muito bem com os do escritor angolano Gonçalo M. Tavares, mas que, ao contrário dele, não leva suas ideias ou temas tão longe assim. Ou faz as coisas de modo mais sucinto: afinal, os livros de GMT são bastante curtos (alguns que li) se comparados aos de EVM; cansam menos o leitor (ou dão mais prazer, depende).

Enfim, como trata de literatura e seus criadores, gostaria de ter gostado mais de Bartleby e Companhia. Que me pareceu muito mais um livro curioso, de um autor criativo, do que uma obra tão interessante (ou cativante) assim mas lembro que sou apenas um leitor mediano. Que apreciou muito a citação de Jean de La Bruyère, no início do livro: "A glória ou o mérito de certos homens consiste em escrever bem; o de outros consiste em não escrever." Pois é...

Lido entre 02 e 07/04/2016. Minha nota: 3,3.
Paulo Sousa 13/07/2021minha estante
comecei agorinha! espero gostar até o final como já venho gostando ?


jota 13/07/2021minha estante
Tomara que aprecie mais do que eu: penso que a ideia inicial era muito boa, mas sua execução não se deu a contento (segundo minha leitura, claro).


Paulo Sousa 14/07/2021minha estante
lido! foi um livro bastante interessante! mas sua resenha dele tb me deu algumas impressões?




umafacasolamina 01/07/2022

eu as deixo dizer, minhas palavras, que não são minhas, eu, essa palavra, essa palavra que elas dizem, mas que dizem em vão.
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cason 17/01/2012

Escribir, no escribir
(Por Antonio Tabucchi, tradução de Carlos Gumpert, disponível em http://www.letraslibres.com/revista/convivio/escribir-no-escribir)

El término autofiction gozó no hace mucho de un cierto entusiasmo sobre todo por parte de la crítica francesa, por más que parezca haberse tratado de un entusiasmo efímero. Acaso porque la autofiction es más fácil de teorizar que de producir, aunque, a decir verdad, el concepto, que ha permanecido en el ámbito de un estrecho círculo de elegidos, ha conservado un sabor vagamente esotérico, con el prestigio que emana de los códigos a los que el vulgo no tiene aún acceso.

Para evitar recorrer el complicado genoma literario del siglo XX que ha dado lugar a una criatura como la autofiction, jugaré con el concepto, y dándole la vuelta a efectos de cuanto me interesa decir aquí podría ser definido de forma negativa, estableciendo lo que no es. Sustancialmente, la autofiction no es cuatro cosas, o mejor dicho, cuatro categorías literarias canónicas hasta hoy: no es autobiografía, ni novela, ni autobiografía novelada ni novela autobiográfica. En su no ser todo eso, se sustrae por lo tanto a las categorías de Philippe Lejeune, quien, por lo demás con notable habilidad y talento, parecía haberle puesto el cascabel al gato de seculares disputas gracias a su idea de la estipulación de un pacto con el lector: los llamados "pacto autobiográfico" y "pacto novelesco".
En realidad, también esta clasificación, que pese a englobar la especie debe depender en cualquier caso de la familia, al igual que sucede en botánica, no toma en consideración el hecho de que autobiografía, autobiografía novelada y novela autobiográfica constituyen una suerte de palindronomo, de cuyo abrazo no puede escaparse; de forma distinta y complementaria llevan a cabo el mismo procedimiento: transformar la vida en literatura. Porque el propio hecho de relatar es literatura, y a esa ley no podemos sustraernos. Cambiando el orden de factores, el producto no se altera, la pescadilla se muerde la cola y se parece a la paradoja de Epiménides: "La frase que sigue es falsa. La frase que precede es verdadera." Relatarse a sí mismo en una autobiografía diligentemente verídica pertenece a lo novelesco de la misma forma que relatarse a sí mismo en una novela autobiográfica. Todo es en cualquier caso "novela". Así que más vale, por lo tanto, hacer una falsa autobiografía, podría ser que resultara más "verdadera". "Cuántas lágrimas he llorado sobre la ficción", decía Pushkin.

Aunque para el pasado no pueda hablarse propiamente de autofiction, es obvio que la literatura siempre ha sabido lo que significa introducir el propio Yo en la fiction. ¿O es que cuanto Cervantes dice de sí mismo en su Don Quijote no significa eso precisamente? ¿O será que lo que afirma Flaubert de Madame Bovary es sólo una graciosa boutade que nos induce a la sonrisa? "Madame Bovary c'est moi": ocurrente, sin duda, pero a fin de cuentas ¿qué quiere decir? Merecería la pena reflexionar sobre ello y seguir el problema en su inevitable trayectoria a lo largo del siglo XX, pero sintetizaré etapas y análisis, disculpándome de antemano por los inevitables hiatos. Rimbaud: "Je est un autre." Pessoa: "El poeta es un fingidor,/ finge tan completamente/ que llega a fingir que es dolor/ el dolor que en verdad siente." Pirandello: Así es si así os parece, Uno, ninguno y cien mil. Beckett: La trilogía. Borges: innumerables cuentos; recuerdo sólo "El Aleph", donde el admirable punto de vista privilegiado sobre la vida y sobre el universo es mostrado por un mediocre poeta argentino de los años veinte precisamente a Jorge Luis Borges, que nos lo cuenta.
Este preámbulo me era útil para llegar al uso que Vila-Matas hace de la biografía, y de la autobiografía, en un procedimiento de autofiction que me parece que nos lleva, en el corazón de sus obras, hacia una dimensión a fin de cuentas lejana del punto de arranque y que significa sustancialmente "indagación acerca de la escritura". Un ejemplo entre muchos: recordar recuerdos ajenos. En Vila-Matas eso ocurre con cierta frecuencia, especialmente en novelas que se parecen a la literatura de viajes, como Lejos de Veracruz, Extraña forma de vida, El viaje vertical: recuerdos de escritores que recorrieron antes esos lugares que está recorriendo (o que no está recorriendo) Vila-Matas. ¿Extracciones de tejidos ajenos? ¿Categorías de lo posmoderno? Tal vez. No me corresponde a mí establecerlo. Lo cierto es que si yo escribo una cosa que ya has escrito tú, es lo mismo, pero ya no es lo mismo. El Pierre Menard de Borges que rescribe el Don Quijote nos lo enseña. Perseguir con pasión vidas ajenas que son la nuestra, interiorizar a los muertos y hacerlos revivir: la escritura revela sus extraños y ocultos poderes, se convierte en práctica mágica. Escribir, ¿qué significa escribir?

Enrique Vila-Matas (Barcelona, 1948) goza ya de fama internacional y sus libros han sido traducidos a numerosos idiomas; el año pasado le fue concedido uno de los más prestigiosos premios de lengua española, el Rómulo Gallegos, el llamado Nobel sudamericano. En Italia hasta ahora era un autor de culto para un pequeño círculo de admiradores gracias a dos libros publicados por la pequeña editorial Sellerio: Suicidios ejemplares y Manual abreviado de la literatura portátil. Con la aparición el pasado año de Bartleby y compañía en la editorial Feltrinelli es de presumir que el círculo de sus admiradores y estimadores llegue a ampliarse.
Y considero que no hay libro más adecuado para hablar de la aproximación de Vila-Matas a la literatura que su Bartleby y compañía, obra de literatura comparada por excelencia, porque abarcando desde las literaturas más conocidas a las más ignotas, desde las más difundidas a las más exiguas, desde las mayoritarias a las minoritarias, desde los países más presentes y potentes del mundo a los más recónditos, trata de un quid que concierne a la literatura de cualquier latitud, de algo que puede ocurrir a los escritores de cualquier parte: dejar de escribir.

Bartleby, como es bien sabido, es el personaje de Melville, el copista, el administrativo de una oficina londinense, quien, ante cualquier invitación que se le haga para extender o copiar un documento (pero no sólo eso, también ante cualquier pregunta que se le haga, ante cualquier impulso para que reaccione), responde una frase absolutamente infranqueable: "Preferiría no hacerlo". La novela de Vila-Matas es un diario, obviamente no de Vila-Matas, sino de un personaje (un señor desconocido, cuyo nombre nunca se pronuncia) que trabaja como empleado y que, veinte años antes, cuando era joven, había publicado un libro sobre la imposibilidad del amor. Después de aquello ya no ha vuelto a escribir. El porqué no se nos dice. Pero el 8 de julio de 1999, el autor de ese único libro empieza a indagar en su diario íntimo sobre los escritores de todas las latitudes que han dejado de escribir, asociándolos en un ideal club de la "literatura del No", una bandada de Bartlebys acomunados por la pulsión del No, por la vocación por el silencio. O más bien, como hubiera dicho Robert Walser (Jakob von Guten es obviamente objeto de indagación del diarista que ha cesado de escribir), "saber que no se puede escribir es una forma de escribir" (aunque quizá la afirmación sea de Vila-Matas, quiero señalarlo).

Ello, naturalmente, conduce a una dimensión "paralela" donde el no escribir es una forma de vida, el silencio puede ser no una renuncia sino una conquista o una afirmación, donde lo no-existente se impone pasando a ser, cargado de un significado misterioso e insondable, al igual que una pausa, un silencio en una partitura musical que puede resultar más emocionante que una nota.

El oscuro escritor de un único libro se embarca en una extraña aventura, que prescinde de la cronología y de la geografía, en busca de los motivos por los que sus correligionarios han dejado de escribir. Y, qué extraño, cada uno lo ha hecho por razones distintas, al menos según las hipótesis, las elucubraciones, las afirmaciones y las documentaciones (verdaderas o presuntas, reales o apócrifas) que él va anotando. Juan Rulfo, autor de una de las obras maestras de la literatura hispanoamericana, Pedro Páramo, y que después calla durante el resto de la vida, esgrime una de las justificaciones más originales que los escritores del No han pronunciado jamás para justificar su abandono de la escritura: "Porque se murió mi tío Celerino, que era quien me contaba las historias". El episodio es relatado por Augusto Monterroso, al menos según lo que sostiene el personaje de Vila-Matas (y por lo tanto, lo apócrifo está al acecho). Con todo, no será inútil referir una perspicaz fábula que sobre el mítico silencio de Juan Rulfo escribió verdaderamente su buen amigo Monterroso, "El zorro más sabio". En ella se cuenta de un imaginario escritor de nombre Zorro, autor de dos novelas acogidas con enorme favor por la crítica. Pasaron los años, y el señor Zorro no publicaba ningún otro libro. La gente empezaba a murmurar y a interrogarse acerca del silencio del señor Zorro, y cuando se encontraban con él en alguna recepción o ceremonia se le acercaban y le decían que debía publicar otro libro. Pero si ya he publicado dos, contestaba cansinamente el señor Zorro. Y excelentes, replicaba todo el mundo, por eso debe publicar otro. El señor Zorro no lo confesó jamás, pero pensaba que en realidad lo que se pretendía de él era que publicara por fin un pésimo libro. Y dado que era un auténtico zorro, no lo hizo.

En el periplo por los mares ignotos de la no-escritura, el personaje de Vila-Matas no podía dejar de encontrarse con aquellos que pensaron escribir, pero no lo hicieron nunca, aquellos que eran potencialmente escritores, pero no llegaron a serlo. Aquellos, en definitiva, que lo rechazaron de antemano. La categoría es vasta en el siglo XX, y el no-escritor de Vila-Matas localiza al pionero en Joseph Joubert, nacido en Montignac en 1754, muerto a los setenta años, gran amigo de Chateaubriand, que no escribió jamás libro alguno, aunque se preparó siempre para escribir uno. Se dice que Chateaubriand, que tenía gran ascendiente sobre él, le dijo un día, a la manera de Shakespeare, que le pidiera a ese gran escritor que se ocultaba en él que abandonara sus preconceptos, y que Joubert le contestó que todavía no había encontrado la fuente que buscaba. A su muerte, sus amigos publicaron su Journal intime, que él había redactado sólo para sí mismo, y aquellas páginas revelaron las múltiples vicisitudes que atravesó en su heroica búsqueda de las fuentes de la escritura. En aquella búsqueda, Joubert se perdió, tal vez por las razones por las cuales, según Blanchot, la búsqueda del espace littéraire inhibe la literatura: la fuente de la escritura es por sí misma fuente de la página en blanco.

Del pionero Joubert a nuestros contemporáneos que jamás escribieron lo que hubieran podido escribir: por ejemplo Pepín Bello, que fue el "cerebro" de la generación del 27, la de Lorca, Buñuel, Dalí; o Bobi Bazlen, quien evitó el texto literario para escribir únicamente notas al margen (publicadas en los años setenta por la editorial Adelphi con el título de Note senza testo —Notas sin texto—). El protagonista de Vila-Matas, buscando las razones de estos taciturnos a priori, no descuida los escritores que de tal silencio han buscado las razones, como Daniele del Giudice en su El estadio de Wimbledon, o como el más inquietante texto sobre la imposibilidad de escribir, que es La carta de Lord Chandos; ni obviamente los libros desaparecidos, los libros hipotéticos: los libros de caballerías de Alonso Quijano, Don Quijote; los libros hallados en las estibas de los barcos que arribaban a Alejandría y que Tolomeo hacía copiar; los tratados filosóficos de la biblioteca submarina del Capitán Nemo, y lo más virtual entre lo virtual: los libros que Blaise Cendrars quería anotar en un volumen que proyectó durante mucho tiempo y que hubiera debido titularse Manuel de la Bibliographie des livres jamais publiés ni même écrits.

Y seguimos, en este viaje de la no-escritura, con Rimbaud, que abandona la poesía por Abisinia, y Juan Ramón Jiménez, que deja de escribir en 1956, en el instante en el que recibe el Nobel y muere la compañera de su vida, porque se da cuenta de que todo lo que había escrito lo había escrito porque existía ella, y desde el momento en que ella ya no estaba, escribir ya no tenía sentido. Y Salinger, y su negativa a decir el porqué. Y Kafka, cuyos manuscritos salvó Max Brod de las llamas a las que su autor los había destinado, Kafka con su Odradek, o el último cuento, ese de la ratita Josephine, cantante lírica, que pierde la voz y deja de chillar. Y Enrique Banchs, el autor de La Urna, acerca del cual, en 1936, Borges escribió el memorable artículo "Enrique Banchs ha cumplido este año sus bodas de plata con el silencio". "Quizá su mismo talento le haga desdeñar la literatura como un juego demasiado fácil", escribe Borges para explicar aquel silencio que duraba desde 1911. No sabía Borges que el mutismo de Banchs duraría 57 años, sobrepasando las bodas de oro del poeta con el silencio. O bien el silencio de Petronio, interpretado por Marcel Schwob en sus Vidas imaginarias. Petronio, en el relato de Schwob, es un chico de buena familia que conoció un día a un esclavo llamado Siro, quien le enseñó cosas desconocidas, descubriéndole un mundo de gladiadores bárbaros, de charlatanes, de celestinas, de jovencitos de cabello rizado a los que visitaban los senadores, de viejos borrachos que contaban historias inverecundas en las tabernas. El día que cumplió treinta años, Petronio decidió escribir las historias que pertenecían a ese mundo lejano de su posición social y leyó lo que había escrito al esclavo Siro, quien quedó entusiasmado. Se estuvieron riendo durante dos días enteros, y después Petronio y Siro concibieron el proyecto de poner en práctica las aventuras que Petronio había imaginado: se disfrazaron, entraron en los bajos fondos, se perdieron, se evadieron de la ciudad. Y así Petronio renunció a escribir, porque había empezado a vivir la vida que había imaginado. En otros términos, si el tema de Don Quijote es el soñador que vive sus sueños, la historia de Petronio es la del escritor que decide vivir lo que ha escrito, y por eso deja de escribir: porque ya no le hace falta.

¿Cuántas son las razones del silencio? Tantas como las de la vida. O de la muerte. O del suicidio. Porque el silencio es también un suicidio, razona el silencioso protagonista que escribe el diario escrito por Vila-Matas. Pero al suicidio le hace falta una cantidad de valor más reducida: basta una vez. Para el silencio el valor es obstinado, es necesario reunir valor para callar cada mañana, durante todos los días que nos quedan por vivir. El silencio es un suicidio renovado día a día.
En fin... Hemos llegado al final del libro. Acabamos de cerrar un libro. El desconocido autor que había dejado de escribir y que se interrogaba sobre las razones del silencio ha escrito un libro. Su diario, como el de Joubert, es un libro sobre la imposibilidad de escribir. Sólo que no serán sus amigos quienes lo publiquen póstumo y contra su voluntad: lo publicará Vila-Matas, resolviendo tal vez, con esta autofiction, un problema personal propio con la escritura. Porque si misteriosos son los caminos del silencio, igualmente lo son los de la escritura, y con su personaje Vila-Matas parece interpretar perfectamente la definición que John Keats, el poeta "consciente de ser poeta", dio del poeta: "El poeta es todo y nada, no tiene carácter, le sientan bien tanto la luz como la sombra". Y precisamente por eso, continúa Keats, "el poeta es el ser menos poético que existe, porque carece de identidad: está constantemente sustituyendo y llenando otros cuerpos".

Pero entonces, ¿de qué estamos hablando? Estamos hablando de literatura, naturalmente. Estamos reflexionando sobre ella. La estamos persiguiendo. Nos estamos preguntando qué es. Mallarmé se muestra muy categórico al establecer lo que no es. Cito de Crise des vers: "Narrar, mostrar, describir no presentan ninguna dificultad, y si bien para intercambiar nuestros pensamientos es suficiente con depositar en silencio una moneda en una mano ajena, el uso elemental del discurso sirve como medio de intercambio universal del que participan todos los géneros contemporáneos de la escritura, con la excepción de la literatura".

Gracias, Monsieur Mallarmé. Pero entonces, ¿qué es la literatura? Es una buena cuestión, que incluso podría plantearse la botánica, en el sentido de que se refiere a la especie y descuida la familia, visto que la especie "literatura" depende de la familia "arte". Así que sería necesario preguntarse qué es el arte. ¡Vaya pregunta más original!, se dirá. Y además, atención, veo ya al acecho a Benedetto Croce, que nos dirá no sólo qué es la poesía, sino también lo que no es; o Marx, que le dará un alojamiento popular; o Freud, dispuesto a levantar una piedra sobre la que la pobrecita yacía aplastada. Y muchos otros más, cada uno con su propia versión. Entonces ¿qué?

Entonces, para escapar de los edictos de los poderosos, nos podemos refugiar en una reflexión de Arthur Rimbaud. "Adieu" es un breve texto que forma parte de Une saison en enfer, y creo que se trata de una de las despedidas más hermosas, en su conmovedora levedad, de la literatura. En él, el cometa que ha ardido demasiado deprisa desea ya el propio otoño, la oscuridad y el silencio de los espacios siderales. "Intenté inventar nuevas flores, nuevos astros, nuevas carnes, nuevas lenguas", se dice a sí mismo, "y he aquí el resultado. ¡Debo sepultar mis recuerdos y mi imaginación!" Pero entonces ¿qué eran la poesía y el arte, esas prácticas que él creía sobrenaturales y por las cuales se siente traicionado? El poeta reflexiona. Nos está dando la espalda, quizá en la otra habitación con su mochila para Abisinia ya lista. Ah, un momento, parece que ya ha encontrado la respuesta: "Maintenant je peux dire que l'art est une sottise". Ahora puedo decir que el arte es una estupidez. Mientras lo piensa, Rimbaud está componiendo uno de los poemas más sublimes de todos los tiempos. Y nosotros aceptamos de buena gana su definición: el arte es una estupidez. Pero una estupidez sin la que la vida no tendría sabor, acaso ni siquiera sentido. La literatura, como toda forma de arte, es una estupidez, concedido, sólo que, como dijo Pessoa, es la sencilla demostración de que la vida no basta. Y por eso nosotros seguimos hablando de ella.
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Micha 12/10/2013

O livro fala sobre os "escritores ou não", ou seja, autores que nunca foram publicados, ou que passaram anos sem publicar nada. Até mesmo grandes autores se enquadram na categoria de "Bartleby" (personagem criado por Herman Melville, um escrivão que passava horas olhando pro nada, sem escrever). Leitura cansativa e informações desnecessárias, só li por ser bibliografia obrigatória para o Mestrado.
Ray - Bruxinha.literaria 26/05/2018minha estante
Estou lendo e estou quando chatíssimo também ?




Robert 07/07/2017

“Já faz tempo que venho rastreando o amplo espectro da síndrome de Bartleby na literatura, já faz tempo que estudo a doença, o mal endêmico das letras contemporâneas, a pulsão negativa ou a atração pelo nada que faz com que certos criadores, mesmo tendo consciência literária muito exigente (ou talvez precisamente por isso), nunca cheguem a escrever; ou então escrevam um ou dois livros e depois renunciem à escrita; ou, ainda, após retomarem sem problemas uma obra em andamento, fiquem, um dia, literalmente paralisados para sempre”.

“Não pode existir uma essência destas notas, como tampouco existe uma essência da literatura, porque a essência de qualquer texto consiste precisamente em fugir de toda determinação essencial, de toda afirmação que o estabilize ou realize. Como diz Blanchot, a essência da literatura nunca está aqui, é preciso sempre encontrá-la ou inventá-la novamente”.

“Quem afirma a literatura em si não afirma nada. Quem a procura, procura apenas aquilo que lhe escapa, quem a encontra, encontra apenas aquilo que está aqui ou, o que é pior, para além da literatura. Por isso, em suma, cada livro persegue a não literatura como a essência daquilo que quer e que gostaria apaixonadamente de descobrir”.
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hanny.saraiva 03/08/2017

Abraçando meu Bartleby
Um tapa na cara para o não. A possibilidade infinita de "Por que não escrevemos?" Um presente para o autoconhecimento se você é escritor ou lida com as palavras. Esse livro entrou em meus pensamentos como uma cantiga de ninar, me acalentando, me assustando, me fazendo cair no sono daquilo que teimo esquecer, mas que persiste: por onde andam as palavras quando você mais deseja possui-las?

Citações preferidas:
- A glória ou o mérito de certos homens consiste em escrever bem; o de outros consiste em não escrever.
- Eu pensava que queria ser poeta, mas no fundo queria ser poema.
- Esses livros fantasmas, textos invisíveis, seriam aqueles que um dia batem à nossa porta e, quando vamos recebê-los, por um motivo frequentemente fútil, esfumam-se; abrimos a porta e não estão mais ali, foram embora.
- É maravilhoso o não porque é um centro vazio, mas sempre frutífero.
- Toda literatura é a negação de si mesma.
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Julio.Argibay 20/02/2018

Bartleby
Um conto bem fora da curva do autor de Mobydick. Um escriturário com um temperamento bem atípico tira a paz de um advogado em seu proprio escritorio e nos faz refletir sobre nossa vida e objetivos.
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