Surrealista, barroco, visionário, Murilo Mendes foi uma das vozes poéticas mais pessoais e inovadoras do modernismo brasileiro. Desde a estreia, com Poemas (1930), a sua poesia incomodou os conservadores e despertou a atenção dos que buscavam novos caminhos. O livro revelava um poeta original e maduro, movimentando-se num ambiente onírico e de conciliação de extremos, do cotidiano prosaico ao metafísico.
Esse caminho seria abandonado de maneira abrupta, com a História do Brasil (1932), sátira à versão oficial de nossa história, expressa em poemas-piadas. O livro seria excluído pelo autor na edição global de suas Poesias, em 1959. Os poemas incluídos em Tempo e Eternidade (1935), em parceria com Jorge de Lima, exaltam a musa que, com a igreja católica, divide as atenções do poeta. O conflito se singulariza em A Poesia em Pânico (1938), com a vitória da musa, mas também a nota inquietante de identificação de mulher e pecado. O Visionário (1941) é escandalosamente surrealista, um dos livros mais representativos e solitários do modernismo.
A integração à dura realidade do mundo, nos dias sombrios da Segunda Guerra Mundial, assinalam os poemas de As Metamorfoses (1944) e se prolongam em Poesia Liberdade (1947). O mundo parece sem redenção, mas o poeta descobre que ela é possível pela bondade e a poesia. Este o clima de Mundo Enigma (1945). O desejo de fraternidade e comunhão humana se aprofunda em Contemplação de Ouro Preto (1954).
Com a mudança para Roma, em 1957, o poeta se europeíza, e os livros seguintes trazem uma forte marca da cultura europeia, não como influência diluída pelas raízes nativas, mas como marca de integração do poeta ao mundo que o cerca. Integrou-se tão bem que passou a escrever em italiano, como mostram os poemas de 'Ipotesi' (1968). Já não era apenas um poeta brasileiro, mas um poeta do mundo.
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