O curso ministrado por Michel Foucault no Collège de France de janeiro a abril de 1979, Nascimento da biopolítica, se inscreve na continuidade do curso do ano anterior, Segurança, território, população. Depois de mostrar como, no século XVIII, a economia política assinala o nascimento de uma nova razão governamental – governar menos, por uma preocupação de eficácia máxima, em função da naturalidade dos fenômenos com que se tem de lidar –, Michel Foucault empreende a análise das formas dessa governabilidade liberal. Trata-se de descrever a racionalidade política no interior da qual foram postos os problemas específicos da vida e da população: “Estudar o liberalismo como moldura geral da biopolítica.”
Quais são as características específicas da arte liberal de governar, tal como se esboça no século XVIII? Que crise de governamentalidade caracteriza o mundo atual e a que revisões do governo liberal ela deu ensejo? É a essa tarefa de diagnóstico que responde o estudo das duas grandes escolas neoliberais do século XX, o ordoliberalismo alemão e o neoliberalismo da Escola de Chicago – única incursão de Michel Foucault ao longo de todo o seu ensino no Collège de France no campo da história contemporânea.
Essa análise põe em evidência o papel paradoxal desempenhado pela “sociedade” em relação ao governo: princípio em nome do qual este tende a se autolimitar, mas também alvo de uma intervenção governamental permanente, para produzir, multiplicar e garantir as liberdades necessárias ao liberalismo econômico. A sociedade civil, longe de se opor ao Estado, é portanto o correlativo da tecnologia liberal de governo.
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