Notas da arrebentação inicia com uma carta aberta ao escritor Juliano Garcia Pessanha (Certeza do agora, Atelier, 2002) e termina com um monólogo para teatro. Entre esses dois textos que se dirigem explicitamente a um leitor/espectador, o autor reuniu quatro contos e uma novela publicados na imprensa e em antologias ao longo dos últimos anos. Se cada um dos escritos de Marcelo Mirisola retoma, por vias diversas, o mesmo temário de obsessões, também é verdade que, a cada vez, o autor produz ligeiros deslocamentos cujo resultado final é afastar qualquer tentativa do leitor de encontrar um ponto de apoio, justamente porque uma das características centrais de sua obra é - conforme afirma o escritor Ricardo Lísias, que assina o posfácio - o fato de ela intencionalmente desistir de se completar. Talvez em nenhum outro livro do autor esta característica esteja tão evidente quanto neste Notas da arrebentação. Movido por uma angústia que cava golfos e abismos, que só encontra equivalência num céu esburacado de Van Gogh, o narrador de Marcelo Mirisola, ao contrário da figura transgressiva que pode parecer à primeira vista, está sempre pronto a capitular e aceitar aquilo que, no momento anterior, ridicularizava e diminuía. Trata-se no fundo, enfatiza Lísias, de uma estratégia literária de alto risco, mas também de alto rendimento, e que destaca a prosa de Marcelo Mirisola do conformismo contemporâneo.