Os livros de protesto contra a guerra, de Remarque, continuam tão atuais e tão válidos como quando foram escritos no dia seguinte da Primeira Guerra Mundial. Depois da Primeira, houve a Segunda e ainda agora não se passa um dia sem que em algum canto do mundo não se estenda uma sombra sinistra que pode ser, ao acaso das circunstâncias e dos jogos do realismo político, o prenúncio ou o início da Terceira.
Com isso, os corações enchem de pânico e reencontram o clima de protesto, de revolta e de absoluta desilusão que impregna os livros de guerra do grande escritor alemão e faz dele um dos intérpretes mais famosos e reconhecidos dos anseios de toda a humanidade.
Aqui está uma voz reforçada pela experiência e pela emoção que fala da guerra não como uma crônica mais ou menos objetiva de estratégias e batalhas, não como o relato visível nas história das maquinações ocultas das chancelarias, mas da guerra como a catástrofe, pior do que uma bateria inteira de bombas de hidrogênio, que se abate sobre a vida quotidiana das pobres criaturas que não participam das elocubrações diplomáticas, nem dos jogos da política e sentem o impacto da guerra nas vidas destroçadas para sempre, com todos os laços da vida anterior irremediavelmente desfeitos.
Desde os tempos neolíticos, quando os homens lutaram pela posse do primeiro campo de trigo, o espírito humano sempre conseguiu triunfar das guerras e restabelecer, ao menos provisoriamente, enquanto os altos dirigentes deliberam, a vida normal e civil sem bombardeios, nem despedaçamentos, mas à custa de inúmeros sacrifícios e renúncias, talvez mais cruéis do que os impostos diretamente pela guerra.
É o início dessa construção entre ruínas, a pálida luz da esperança entre as trevas do desespero que nos mostra O Caminho de Volta. É possível que alguns só vejam nele lado negativo, mas de qualquer maneira o livro justifica plenamente seu sucesso universal e a sua permanente atualidade.