Em agosto de 1992, Sebald passava as tardes em caminhadas por Suffolk, um dos mais belos e menos populosos condados ingleses. Os anéis de Saturno é o resultado desses passeios despreocupados. Uma cacofonia de fragmentos e memórias, permeada por conhecimento e assombrada pela mortalidade. O livro é um relato sobre o poder da História e a transitoriedade da vida. Nele, Sebald despeja restos do próprio passado mesclados a cicatrizes da decadência do império britânico.
Os anéis de Saturno tem por narradores literatos esquivos ou excêntricos moradores de mansões destruídas. Eles protagonizam relatos onde se embutem lições de história. Ascensão e declínio econômico contados, por exemplo, a partir da pesca do arenque, da exploração do turismo ou das conexões entre a cultura do açúcar nas colônias e o mecenato europeu. Assim como em Os emigrantes, passado e presente são interligados: os vivos lembram aparições sobrenaturais, enquanto os mortos estão assustadoramente vívidos.
Sebald descreve uma paisagem ao mesmo tempo fascinante e perturbadora. Um mundo repaginado, onde o tempo sempre vence, mas oferece um prêmio de consolação: a memória. A futilidade da existência é parcialmente apagada pela grandeza e a habilidade de nossa imaginação. O ser humano pode sonhar e, em algum lugar dessa elaboração onírica, a realidade é derrotada.
Em Os anéis de Saturno, Sebald revisita Joseph Conrad e os horrores da colonização no Congo Belga e os bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Ao passar por uma ponte abandonada, o caminho do narrador nos leva até à corte da imperatriz Tzu Hsi, à autodestruição dos Taiping, à Guerra do Ópio e ao estabelecimento da indústria da seda em Norwich. À medida que o narrador cataloga estas transmigrações de universos no tempo, no espaço e na História, o leitor é hipnotizado por correntes de sobrevivência e memórias, mudança e esquecimento captadas pela literatura ímpar de W. G. Sebald.
Ficção / Literatura Estrangeira / Romance