Qual o papel do intelectual quando as posições extremadas parecem turvar todo o debate? Qual a relação entre cultura e política em uma sociedade democrática? Essas perguntas estão no cerne
das preocupações de Norberto Bobbio e são exploradas ao longo dos 15 ensaios coligidos neste Política e cultura.
Escrito em um ambiente marcado pela Guerra Fria e pelo fracasso na Itália das forças políticas que procuravam alternativas à polarização entre socialismo e capitalismo, Política e cultura é um dos
principais livros de Bobbio, traduzido para 19 idiomas e com mais de 300 mil exemplares vendidos no seu país de origem.
Nesta obra, o autor desenvolve reflexões vinculadas ao seu ideal de um novo liberalismo, fortemente sensível aos temas da justiça social, mas convicto também em exigir a limitação constitucional
e o controle permanente dos poderes do Estado por parte dos cidadãos. Bobbio se coloca aqui na trincheira daqueles que querem tornar ineficaz o dispositivo amigo-inimigo animado pelas ideologias totalitárias, propondo uma reconstrução teórica da autonomia, do respeito e da responsabilidade individual.
“A filosofia militante que tenho em mente é uma filosofia em luta contra os ataques, de qualquer lado que venham – tanto daquele dos tradicionalistas como daquele dos inovadores –, à liberdade da razão esclarecedora.”
Nesse sentido, a ideia de cultura desempenha papel central, pois no en tender do autor significa ponderação, circunspecção, medida, “avaliar todos os argumentos antes de se pronunciar, nunca
decidir à maneira de oráculo do qual dependa, de modo irrevogável, uma escolha peremptória e definitiva”. Para ele, o homem de cultura está mais preocupado em disseminar as dúvidas do que
em colher certezas. Longe de significar não tomar partido, trata-se de defender a possibilidade de não aceitar os termos da polarização e de submetê-los ao escrutínio da razão.
Política e cultura discorre, assim, sobre a necessidade de se construir caminhos para o diálogo e a crítica em tempos de fundamentalismos e intolerância. Uma obra que não se furta a mostrar sua vitalidade.
Sociologia