Pensador visionário, Vilém Flusser é cada vez mais reconhecido como um filósofo que tratou de problemas que se tornariam centrais para o século XXI. Pós-História é talvez a obra em que essa potência fica mais evidente. A hipótese do livro é que vivemos em estado de permanente anticlímax, distraindo a nós mesmos e a outros do fato de não mais podermos acreditar no ser humano. Com o procedimento de transcender para identificar objetos, o Ocidente forjou uma utopia, e nós a alcançamos: agora funcionamos no interior de aparelhos. O impensável absurdo que foi Auschwitz desvendou a índole de nossa civilização. Eventos históricos continuam a ocorrer mas são reduzidos a tecnoimagens, devoradas com sensacionalismo. Modelos são transmitidos infindavelmente, num totalitarismo camuflado. Não só pessimista mas sobretudo inconformista, este volume é uma leitura inquietante, tornada ainda mais pertinente pela atenção que o autor concede às particularidades da circunstância brasileira.
Filosofia