"Enfim, um jeito novo de poetar", foi o pensamento que me veio à cabeça após o impacto da leitura de AGRURAS DA LATA D`ÁGUA, novo livro de Jessier Quirino.
Corria o ano de 1998 e eu recebei o texto, com afetuosa dedicatória, lá em Brasília. Já nas primeiras linhas me dei conta de que estava diante de alguma coisa que se diferenciava, e muito, das criações nordestinas que me chegavam às mãos lá no Planalto Central a partir das oficinas aqui da terra amada.
O ineditismo na maneira de meter o chicote e domar as palavras foi o ponto saliente da obra desse jovem vate paraibano que me ficou retinindo no juízo. Comentei o fato com alguns amigos e recomendei o texto para inúmeras pessoas, com a fé já renovada nas bem-aventuranças e presepanças da poesia nordestina, na assim dita poesia popular que, no caso de Jessier, é apenas uma sutil ferramenta de tradução da aguda visão que o artista tem desse peculiar recanto de mundo.
Feliz o sítio que tem o privilégio de abrigar um cantor do quilate de Jessier Quirino.
A Nação Nordestina - suas facetas múltiplas, sua gente, seus bichos, seus cantos e recantos - sempre teve ao longo de sua história, intérpretes à altura do fantástico universo que preenche esse místico espaço desde a praia até o mais recôndito sertão. Encantados e doidos de variadas artes.
O doido deste livro, na sua modesta grandeza,, apenas ajuntou-se a essa extensa galeria de espíritos iluminados e não mais fez que conquistar o direito de ocupar seu espaço. E o domínio do espaço, vale ressaltar, é sabedoria indispensável para o exercício da arquitetura, ganha-pão e ganha-paz desse poeta-maior.
Se além de ler o livro o leitor tiver a sorte de ouvir o poeta declamando, o desmantelo estará completo e a magia perfeitamente instalada.
Santo desmantelo esse jeito a um só tempo arrochado e afolozado de construir poemas.
Francamente, é com muita felicidade que pego bigu no caminhão do querido amigo, um paraibano que honra sem restrições a tradição poética desse estado federado da Nação Nordestina.
* (Autor do livro O Romance da Besta Fubana)
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