Thaisa 03/09/2024
Eleanor começa a sua autobiografia com uma curiosa analogia: ela sente que, desde sempre, havia recebido uma carta sem saber quando poderia abri-la... Essa carta nada mais é do que sua própria orientação sexual!
É assim que vemos, durante a passagem do tempo, a autora se autodescobrindo como uma mulher lésbica, repetidamente negando sua atração e reprimindo isso por questões de preconceitos internos e noções heteronormativas da sociedade em que está inserida.
O título "The Times I Knew I Was Gay" faz referência aos múltiplos capítulos da história de Eleanor em que ela soube quem era, como se sentia, quem a atraía e o que a faria feliz, mas buscava suprimir sua verdadeira orientação sexual na esperança de continuar vivendo dentro das regras socialmente impostas, sem se permitir ter uma vida feliz e saudável como gostaria.
O mais interessante aqui foi a maneira como a artista apresentou todas as certezas sobre a sua orientação desde a infância, refletindo a realidade de muitas pessoas que, apesar de nascerem sendo LGBTQIAPN+, diversas vezes buscarm fugir desta verdade ao tentar se enquadrar em uma expectativa social, mostrando como o mundo precisa de mais conhecimento, informação e empatia.
As ilustrações são fofas, lembrando bastante o traço de Nate Stevenson (criador de "Nimona"), o que me trouxe um ar nostálgico. Também gostei do dinamismo da trama e de como cada capítulo é dividido de forma a esclarecer e escancarar a orientação de Crewes em uma ordem cronológica.
No entanto, confesso que, mesmo sabendo que o intuito da história é mostrar esses momentos complexos e paradoxais de negação e aceitação, tive a sensação de que uma parte da narrativa estiva faltando: após a protagonista realmente compreender quem ela é, já estamos nas últimas páginas - o que me deixou frustrada, pois não vemos mais do seu desenvolvimento pessoal ou mesmo amoroso após ela ter, de fato, aceitado que é parte da comunidade LGBTQIAPN+. Na minha opinião, mergulhar um pouco mais no presente de Eleanor possibilitaria uma conclusão narrativa mais satisfatória para o leitor.
No geral, foi um quadrinho interessante, divertido, reflexivo e importante que poderia ser um pouco mais longo e nos contar toda a trajetória da autora; mas, ainda assim, a experiência de leitura valeu a pena!
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