preta velha 06/01/2024
Uma mulher à frente de seu tempo
Este é o segundo livro da maíra castanheiro, historiadora, tradutora e escritora soteropolitana, e embora esteja categorizado como diário, há características do gênero crônica nos relatos, que começaram no facebook em dois mil e quinze, quando ela se separou do pai da sua filha mariaalice.
as narrativas selecionadas compreendem o período de julho de dois mil e quinze a dezembro de dois mil e vinte e expõem, dentre outros assuntos, o estilo de vida que a escritora escolheu, falar abertamente sobre o uso de maconha e lsd, com todas as implicações que isto lhe trouxe - inclusive perder a guarda da filha e não ser contratada e ser demitida de escolas; sua experiência como professora do ensino fundamental dois na educação pública; a batalha judicial pela guarda da mariaalice; sua opção pela solidão e por relações livres; suas relações familiares complexas - principalmente com a poeta margareth castanheiro, sua mãe borderline e bipolar -, de amizade harmoniosas e afetivo-sexuais de desencontros; a saudade que sente do pai, o poeta zeca de magalhães, falecido em dois mil e dezessete; sua maternidade; seu posicionamento político antiproibicionista e anarquista; os vários lugares em que morou no brasil e no exterior; feminismo; liberdade e filosofia.
o texto é fluido; a autora tem pleno domínio da morfologia; há inúmeros neologismos - que se iniciam no título do livro - e jogos de palavras; expressões em baianês e referências à mitologia grega, filmes, livros e músicas (especialmente de cantores/compositores baianos).
a escrita da maíra me despertou bastantes sensações e gargalhei e chorei nos trechos em que ela interage com seus alunos, em sala de aula ou fora dela.
"a solidão é sua sina desde menina", frase que uma amiga lhe disse, foi o que mais me chamou atenção e sintetiza suas vivências.
o livro conta com um projeto gráfico dos designers samuca e ganp belíssimo, a paleta de cores em amarelo, lilás, vermelho e verde resultou em uma excelente combinação, aliada à luxuosa capa dura com fitilho lilás e a revisão da clarisse cintra e do também poeta santiago fontoura é impecável.
em dois mil e vinte e um, após um acordo com o pai da mariaalice, a maíra conquistou, enfim, sua guarda.
a autora lançou em dois mil e dezenove "para maria alice", um livro de cartas escritas durante o primeiro setênio da pequena.
recomendo. recomendo. recomendo.