spoiler visualizarSara 28/04/2022
Parece um dorama ruim
Dava para perceber o esforço que a autora estava desempenhando no livro, e ela certamente achou a história interessante, divertida e emocionante. Mas, para mim, não foi.
Acho que eu poderia dar um desconto para o livro se ele tivesse umas 300 páginas, mas aí a minha crítica é justamente sobre isso. De pernas pro ar diz, na sinopse, que Viktor Valente leva uma vida normal com alguns segredos, até que um delinquente entra na escola dele e vira a cabeça do nosso protagonista "de pernas para o ar". Essa é uma trama meio batida, mas que se pode mudar o recheio e conseguir algo legal, e não foi isso que aconteceu.
Para começar que, até uns 35% eu estava me questionando se a autora tinha alguma ideia de como funcionam as dinâmicas sociais do ser humano, porque os personagens principais agem como esboços esquisitos sem coordenação o tempo todo. Além disso, eu juro que li as primeiras 320 páginas e não acontece ABSOLUTAMENTE NADA na história. 320. Trezentas e vinte páginas que eu parei pra perceber e fiquei "mas que droga é essa?"
Então é aí que está provavelmente o problema principal que me fez desgostar do livro: ele é DESNECESSARIAMENTE longo. Se excede muuuuuuuuuuuuito além do que devia sem ter substância nenhuma para se manter. Literalmente é possível pular capítulos inteiros e continuar a leitura sem prejudicar o entendimento da história, porque parece que nem a autora sabe o que quer contar, e por um tempão é só uma série de coisas aleatórias e descartáveis que acontecem durante o enredo.
São 845 páginas sem qualquer sentido. A história podia ter acabado lá pelos 56% do livro, mas ela quis continuar com arcos dramáticos bem dispensáveis. A sensação que me causou é que ela fez tudo no improviso. Além do mais, somos apresentados a um grupo de 7 amigos que, em 845 páginas de história, pouco sabemos além de seus nomes e algumas características superficiais e genéricas.
Ofereço uma qualidade: as interações com Viktor e sua irmã são realmente divertidas em vários momentos, e sua relação com a família é gostosa de ver. Mas falando no protagonista, eu não pude deixar de sentir uma Síndrome de Viny vinda dele; toda essa coisa "ai meu deus, eu falei em voz alta esse pensamento", "oh, como eu sou desastrado e desatento, isso só acontece comigo" é bem irritante depois de um tempo. Acho que a intenção era realmente ser engraçado, mas só passou a energia forçada do participante do BBB 22, o que me fez revirar os olhos em vários momentos enquanto ele narrava suas bobices.
E Leon Allegra, por fim, que tragédia de personagem. O jeito como ele agiu logo no começo do livro foi completamente "meu amigo????", como se não conhecesse normas de convívio social. E depois, quando ele cometia seus atos violentos como se fosse um dos vingadores, eu sempre achava um absurdo. E ainda me colocaram um arco dramático envolvendo a mãe dele que é, sinceramente, de dar sono.
Acho que comecei a revirar meus olhos para a narrativa lá para os 40% do livro, quando percebi que já tinha lido mais de 300 páginas e pouco ou nada tinha acrescido na história. A partir daí foi só ladeira abaixo, então as duas estrelas são, na verdade, até uma cortesia. Não indico esse livro para ninguém que tenha um pouco de senso crítico.