spoiler visualizarchuwanning 25/03/2023
Resenha longa! contém spoilers. a maior parte não é de coisas positivas.
Bab quase me fez desistir de ler novels.
# Resumo:
Bab conta a história de He Yu, o paciente 4 de uma doença raríssima conhecida como ebola psicológico que, até onde se sabe, matou seus 3 primeiros portadores de maneiras muito agressivas. Quando começamos, sabemos que He Yu teve uma infância solitária, negligente, que seus pais amam mais o filho caçula do que ele, e que a única figura de confiança que ele teve foi o Xie Qingcheng, que era o psiquiatra dele ali por volta dos nove a onze anos, pelo que me lembro. He Yu, porém, tem uma paixonite pela irmã do XQC, Xie Xue, que também é mais velha que ele e vê o cara como um didi, um irmão mais novo. A premissa é essa.
# Sobre a história:
Rou Bao gosta de puxar nosso limite como leitor, fazendo a gente se questionar o que considera moralmente aceito. Para me desvencilhar do senso comum, minha suspensão de crença é bem grande, por isso eu consigo entender que a Rou Bao, por ex., não é uma autora comum escrevendo histórias comuns. E tudo porque eu olho pro fundamento mais básico em ler um livro com uma história complexa: avaliar o desenvolvimento antes do sentido.
Então, se desenvolve, eu não ligo como começa.
Mas a Rou Bao se perdeu tanto na escrita de bab, o enredo é tão carente de consistência, a relação dos protagonistas é tão defecada, tão mal feita mesmo. O desenvolvimento vai, lento, mas vai, aí do nada ele regride sete casas, do nada! A conexão entre eles, que no início é tão simbólica e complexa, mas instigante, vira algo todo cheio de repetição. Eles fazem as mesmas coisas, dizem as mesmas coisas um pro outro, sem parar. Uma encheção de linguiça do caramba.
Me falaram de sci-fi, não vi. Me falaram de terror, não vi. Me falaram de dark romance, não vi. Pra mim é um drama psicológico que teria funciona MUITO melhor se fosse apenas sobre eles se envolvendo.
Juro. Que enredo ruim. A parte que falam ser sci-fi mesmo se trata da doença em questão, porque de resto não tem nenhum outro elemento até o capítulo 210, mais ou menos. E esse elemento é tão mirabolante que, quando ele chegou, eu comecei a rir! Sério, eu fiquei rindo porque NADA preparou esse terreno. O mistério é mal feito, as cenas são jogadas, os personagens secundários são todos jogados ao léu. Quando do nada o livro começou a ter cães robóticos, metaverso e uma versão de Corra! do Jordan Peele para velhinhas — foi aqui que eu me irritei de vez.
Bab tem 254 capítulos enxutos, fora os extras, que não é justo avaliar aqui. A história em si é extremamente instigante, no começo.
A cena do manicômio onde tudo pega fogo e o He Yu usa o sangue gu nas pessoas porque o governo deu permissão para deixa-las morrendo foi bem anti-manicomial e maravilhosamente escrita, como eu sempre espero da Rou Bao. Outras cenas, depois, como o primeiro beijo deles, a cena deles naquela ilhazinha da faculdade, algumas outras isoladas, também eram muito simbólicas, cheias de detalhes, nunca exageradamente descritas, nunca melodramáticas.
Eu queria saber mais sobre a doença, sobre o He Yu, o que realmente acontecia dentro dele por causa dessa condição, e, principalmente, quem diabos era o Xie Qingcheng e por que esse cara era tão apático, sem emoção, paternalista, chato, chato. Sabia que ia amar ele depois, por isso tava obcecado, muito envolvido com a história.
Aí veio a cena no clube. Os motivos do He Yu não eram lógicos, mas até aí eu não esperava nenhuma lógica dele mesmo. Tudo aconteceu meio que sem querer, narrado de um jeito jogado, a cena em si é meio mal feita no começo, tem aquelas pessoas ao redor que ficam sem falar nada, inúteis ao enredo, tem o He Yu surtando, e eu só entendi que eles ficaram a sós quando tavam na cama.
Até então era bem ok, eu tinha entendido que a relação deles ia desenvolver de um ato criminoso, e, mesmo que eu seja tão arredio com isso, sabia que ela ia romantizar tudo até o talo pra que eles fossem um casal. Aí vem as pessoas, entre aspas, ah, mas ela não romantiza nada! Romantiza sim, é o que um escritor faz. Se vira romance e a pessoa que foi abusada perdoa, foi romantizado. Eu não tô tacando pedras nela aqui, tô simplesmente constatando que isso aconteceu no enredo e pronto. Rou Bao usa abuso para mover a relação interpessoal dos protagonistas, ela fez com as memórias do Chu Fei em 2ha e fez isso aqui.
Simples assim.
Até o capítulo 100, bab é muito interessante. Todo o drama da relação suja, abusiva, a dinâmica péssima entre eles, como o He Yu acha mesmo que o fato do XQC deixar ele fazer o que quer é consentimento — tudo isso é bem agoniante e desafiador. O XQC não consente com P nenhuma, nenhuma! Ele deixa o HY fazer o que quer porque sabe que pode se tornar algo agressivo caso recuse, já que nesse ponto da história o HY odeia ele, e sabe, também, que o HY é doente demais e pode machucar outras pessoas. Tem passagens da Rou Bao dizendo com clareza que o XQC preferia lidar com o HY assim, deixa-lo abusar dele como quisesse, para que ele não fizesse pior a outros.
Ou seja, não é só dub-con. Ele não consentia. Essa coisa de, entre aspas, ah mas o XQC não falava nada. Meu Deus, a gente leu o mesmo livro? Ele pede pro HY não fazer nada, pede pro HY parar, pede pro HY não ejacul4r dentro, pede pro HY usar preservativo, e o HY ouve? Não. Ele para? Não. Ele continua fazendo as mesmas coisas apesar do que o XQC pede pra ele não fazer o livro todo, até o fim? Sim.
Aí volto para a suspensão de crença. É uma história que não se passa no nosso mundo, tem regras diferentes, leis diferentes, biologia, etc. E tudo bem. Mas como leitor eu continuo achando que aqui ela esticou tanto a baladeira, como a gente fala aqui no Ceará, que outros aspectos além da relação deles ficaram muito a quem.
Voltando. Pra mim as coisas mudaram e eles passaram a se ver de maneira diferente quando o XQC revela que é o Primeiro Imperador. Rou Bao deixa mais do que claro que esse momento é onde o HY percebe que o XQC não somente marcou a vida dele, como também fez companhia num mundo onde ele pensou que tava sozinho. Esse é o turning point, é quando a relação deles muda, a perspectiva dos dois dá uma balançada.
Até aqui, eu conseguia ver a Rou Bao que me impressionou com 2ha. Foi tudo tão meticuloso, ela escreve histórias sobre ódio tão bem, os turning points são sempre tão bem encaixados no momento certinho, é lindo de ver. Além da relação deles mudar, foi aqui que a gente começou a ver o POV do XQC, que a gente não via. Ela só mostrava a narração, a superfície do que todo mundo pensava dele, ah, ele é paternalista isso, ele é heterossexual e 🤬 #$%!& aquilo.
Mas quando a gente sabe que o XQC é como o HY, passa a enxergar ele de um jeito diferente e acompanhar os pensamentos e propósitos dele. Porque é isso que tá acontecendo, eles têm essa conexão estranha por serem o Tóxico 1 e o Tóxico 2 num mundo de gente que não admite as próprias merdas. O HY tá cansado de fingir ser, entre aspas, normal, e o XQC fez isso por mais de trinta anos, ele tá exausto. A gente vê a humanidade dele, finalmente! Vê por que ele cede ao HY, por mais subversivo e doentio que as coisas sejam na cabeça dele.
Porque, ora, ele também ficou sozinho a vida toda, certo? Fingindo e fingindo. E já chega.
Então, a partir daí, você vê a relação deles não somente se tornando um romance, mas também os efeitos precisos do abuso. Em vários momentos o HY se recorda do que fez, pensa em como foi terrível e traumatizante pro XQC, ele tenta ser romântico, ele começa a entender o que sente. O XQC é relutante, ele tem medo de si mesmo, do HY, ele detesta a situação toda, mas ele permite. Não mais porque ele tá sendo passivo para as agressões do HY, mas porque eles passam a se ver como iguais.
O hot do ano novo foi, possivelmente, uma das melhores cenas de sexo que já li na vida.
Adoro a cena da declaração do He Yu, também. Muito bem feita.
Enfim. A relação deles dá saltos, mas ainda é aquela coisa insuportável. XQC segue com seus bloqueios emocionais persistentes e, sinceramente, até abusivos de certa maneira, porque nenhuma relação que ele tem pode progredir dessa forma, já que ele não se abre pra nada, mal conversa sobre assuntos triviais, não se permite ser bobo, nada. He Yu, é claro, caçando o rabo de mel do Xie Qingcheng sem desistir jamais, mesmo com Chen Man no meio, mesmo com o XQC dizendo que aquilo não vai funcionar.
Temos o hot do carro. Que coisa bem escrita. Eu lia e pensava, entre aspas, essa é a Rou Bao que eu gosto, é assim que ela me faz questionar minha sanidade. Não existe coisa mais bonita de ler do que consentimento pleno. Não existe! Na cena, He Yu está em surto, mas ele não está inconsciente e sim magoado. Quando tudo acontece, quando a gente ver o XQC cedendo como fez no ano novo, quando eles se perdem naquela situação no meio de um estacionamento deserto, sério... QUE CENA BOA.
Eu pensei, uau. As coisas vão ficar muito boas.
E não ficaram.
# Cap 150 a 200:
Tudo foi desandando, assim, de uma maneira quase engraçada. Não eram apenas obstáculos que surgiram por causa de x ou y, eram coisas chatas mesmo, sem sentido, jogados ao léu pra impactar, uma forçada enorme que quase deu caganeira pra fazer com que eles não ficassem juntos ainda, uma resistência irracional por parte do XQC. E é engraçado porque, sendo os dois pacientes da mesma doença e sendo esse universo diferente do nosso mundo comum, eu esperava mesmo que eles não tivessem atitudes racionais. Só que não foi um desenvolvimento apenas doido, mirabolante, não foram obstáculos apenas revoltantes. Foi mal feito.
Eu não entendia mais aonde o mistério tava indo, se havia um. Quem eram os personagens envolvidos mesmo? Pouco me interessava. Nada era importante, os subplots e as pistas não faziam sentido NENHUM. Eu esperei por boas conclusões, mas depois de terminar percebi que as pistas soltas ao longo do livro não eram NADA demais e muitas vezes deixaram bem claro que a Rou Bao se perdeu na escrita totalmente.
A relação deles tem problemas o livro todo, tem cenas que eu revirei os olhos com tanta força lendo que quase vi Jesus. Não era só uma chateação vindo da dificuldade pra eles ficarem juntos, era tudo chato mesmo, chato pra caramba! Às vezes beirava o infantil.
A velhinha do Corra! aparece uma vez antes do capítulo 100 e, no duzentos — e depois, também — ele ainda não tinha aparecido de novo! O He Yu morre, em tese, vai pra longe por um tempo, e nisso tudo se passa míseros 5 ou 6 capítulos, senão menos! 5 ou 6 capítulos em 254 pro XQC desenvolver emocionalmente os próprios sentimentos, tudo porque a Rou Bao disse, ah, dois anos se passaram, E DAÍ?
# Cap 200 adiante:
Eu detestei tanto os últimos 54 capítulos que nem sei mais como finalizei. Pra mim todo o rolê com a organização Mandela foi ruim. Pareceu que os 200 capítulos de antes era uma história e essa aqui é outra. Os mistérios soltos nos arcos do livro não se encaixaram bem aqui para trazer uma boa conclusão. As mortes soltas, também, como um capítulo lá no começo que uma mulher e a filha dela são assassinadas, outras coisinhas, nada teve um propósito específico. Foi tão estranho, tão impessoal.
Eu sei que ês autores de danmei/yaoi adoram resolver tudo com sexo e às vezes criar cenas filler com hot, não acho um problema, mas nesse caso eu realmente preferia que o enredo em si, ao redor deles, tivesse mais clareza. Os diálogos do He Yu explicando o que é Mandela debaixo de uma colcha de cama, vários capítulos desses mesmos diálogos expositivos e nonsense um atrás do outro intercalados por hots, sério...
Eu não queria ver o He Yu me enchendo de infodumb, eu queria entender Mandela e todo o resto pelos mistérios! Mas a Rou Bao parecia perceber que não escreveu os mistérios direito, então pôs esses vários capítulos de diálogos expositivos beirando o fim do livro, lotando tudo de infodumb, porque o desenvolvimento realmente não funcionou, logo, precisava apressar as explicações se quisesse finalizar direito.
Não gosto do final como um todo. Mesmo que tenha sido feliz, não foi o slowburn emocional dos personagens, a dificuldade deles darem certo, mas o enredo ao redor deles que me deixou muito frustrado, foi o caminho. Eu reli assim os últimos capítulos pensando, mds, que cagada.
# Coisas que odiei:
- Detesto todo o rolê do HY tentando cometer suicídio por causa do XQC. Detesto a abordagem, como se desenvolveu, como isso foi citado depois. Detesto a forma como beira o exagero, como foi embelezado, como a seriedade é deixada de lado. Foi muito mal feito.
- Detesto todo o arco da colcha de cama, que é basicamente um monte de capítulos deles só conversando embaixo de uma colcha, sendo observados pelo Duan Wen que eu nem lembro mais quem é de tão inúteis que são os personagens secundários. Aí eles transam, executam um diálogo expositivo e vão dormir. No repeat. Transam, executam um diálogo expositivo e dormem.
- Não me importo com nenhum personagem secundário. Xie Xue foi maravilhosa, mas inútil pra narrativa. As mulheres fodonas morriam cedo. Os caras fodões eram todos escrotos. Chen Man é simplesmente um dos piores personagens já feitos, ele não é nem chato ou uma pessoa má, ele é só um inútil mesmo. Anthony, então, mal teve falas, mal teve espaço, aí do nada tava sendo um suposto rolo do He Yu.
- A passagem de tempo aqui foi de lascar. Ruim.
- Detesto toda a parte sobre o He Yu tentar engravidar o Xie Qingcheng. As cenas são tão bocós, tão infantis, assim, ridículas mesmo, que eu ri em vários momentos. Ele vinha e falava, ah, XQC, será se você pode engravidar, e eu, ué, procura alguém com útero, 🤬 #$%!& , que coisa chata, chata. E não desenvolve, não troca o disco! Ah, mas ele é louco. Sim, por isso mesmo.
- A cena que o XQC toma um soro lá de uma das pacientes do ebola e começa a ter sintomas de gravidez, aí o rabo dele simplesmente começa a ter lubrificação kkkkkkk e começa a sair leite pelos peitos dele, LEITE. Do nada a Rou Bao meteu um abo de araque.
- Detesto como tudo que o He Yu fez de ruim é justificado pelo argumento dele ser, entre aspas, doido. É tão contraditório e frustrante ver a Rou Bao fazer uma crítica anti-manicomial e falar o livro todo que pessoas como eles dois são excluídas da sociedade, aí vir com esse papinho medíocre de que tudo que o He Yu faz, em especial os abusos, são justificáveis de alguma forma porque ele é doente e, entre aspas, não sabe o que tá fazendo. Ah, mas ela não diz isso. Sim, ela diz. A semiótica da história toda é sobre as ações dele são justificáveis e até perdoáveis porque ele é doente, dando razão para a toda a estigma que ela está tentando, alegadamente, derrubar.
# Conclusão:
Rou Bao, continuo sendo seu fã, mas prefiro beber ácido, comer vidro, me jogar na multidão de adoradores do Bolsonaro, arrancar minhas próprias tripas, ir e voltar de Sobral a pé, do que reler isso aqui. 3 estrelas pelo que poderia ter sido e porque, apesar de tudo, eu gosto dos HeXie.