Santrog 27/06/2024
Até onde a guerra pode destruir?
Caramba, o que foi isso? Terminei com um misto de emoções que não consigo explicar. Eu sabia que iria gostar, mas não esperava que fosse ler algo que me fizesse pensar tanto e fosse tão bem construído assim, é uma história com várias camadas muito bem escritas.
Sim, esse livro é uma fanfic que se passa em um universo alternativo sombrio e perturbador de Harry Potter com um temperinho de ?O conto de Aia? para dar uma crueldade a mais. Os temas escolhidos pela escritora foram pesados, bem pesados a violência se torna ainda mais desconfortável por estarmos vivendo ela como uma das várias vítimas existentes e ao mesmo tempo temos a luta pelo amor que trás uma esperança.
Malfoy se mostra um personagem super complexo e misterioso de uma maneira sinistra, passamos a conhecê-lo melhor ao longo da narrativa e sua evolução é algo notável. Hermione e sua luta constante em tentar manter sua sanidade ao mesmo tempo que toma decisões cruciais e difíceis tanto durante a guerra quanto no pós guerra torna a leitura mais sofrida. Voldemort conseguiu ser tão cruel e desprezível quanto possível.
A guerra retratada é real e impiedosa, ela não poupou ninguém e as suas consequências foram completamente críveis, foi exatamente isso que mais gostei. Sempre que surgia um problema eu sabia que havia a possibilidade de não ter solução ou que ela seria difícil, dolorosa e que haveria consequências, isso foi algo que a autora fez questão de ensinar ao leitor logo no início
O relacionamento entre os protagonistas é perturbadoramente emocionante e linda, eles literalmente morreriam um pelo outro, tudo o que passaram para manter o outro seguro é admirável, mesmo após todo o inferno que viveram, o amor segue ali, forte e vivo.
Esse é um livro com muitos gatilhos, algumas pessoas dizem que houve romantização dos abusos que aconteceram com ela por ter ?aceitado rapidamente? após recuperar as lembranças, eu discordo completamente, ela estava em uma constante luta com ela mesma para conseguir lidar com que passou e conciliar com seus sentimentos, porém eu gostaria que a autora tivesse se demorado mais nesse momento.
O trauma molda os personagens ao longo da narrativa, a tristeza e o sofrimento está presente do início ao fim, até nos momentos que eu pensei: Finalmente uma alegria! Eu olhei melhor para a situação como um todo e percebi que não era exatamente um momento de alegria, nesse livro tem dor e sofrimento até mesmo na alegria.
No final as coisas dão ?certo? e tem um final feliz real. O que seria um final feliz real? Os personagens estão profundamente traumatizados e vivendo com as consequências de terem participado da guerra de maneira tão ativa, ela precisando aprender a lidar com ataques de pânico e suas sequelas, ele sempre em estado de alerta e entendendo como viver com suas sequelas também, porém eles estão juntos vivendo em um exílio eterno, mas juntos.
Eu realmente amei essa história, não esperava que fosse uma leitura densa então acabou me pegando de surpresa, porque realmente pensei que devoraria o livro em poucos dias. Apesar de ter gostado, eu achei que houveram capítulos repetitivos que poderiam ser deixados de fora e momentos que poderiam ter se estendido um pouco mais, porém nada que realmente tenha atrapalhado. O capítulo final com a Aurore e o James deixa claro como a história contada pelo lado vencedor nem sempre é a verdadeira, e a sensação de injustiça bate: ela não merecia ser apenas uma nota de rodapé.