Michele 10/11/2020
DE QUEM É ESTE TESOURO?
“A Ilha do tesouro” (1883), de Robert Louis Stevenson, é um daqueles livros que se tornam a grande referência de um gênero, no caso, as aventuras de busca a tesouros perdidos e a disputa com piratas malvados.
Temos como protagonista Jim Hawkins, um garoto filho do dono de uma estalagem. A sua rotina começa a mudar quando o misterioso capitão J. Flint se hospeda no estabelecimento. Ele dá a Jim a incumbência de alertá-lo caso um homem sem uma perna aparecesse nas proximidades.
Algum tempo depois, o capitão morre e um novo fato é revelado: ele era o guardião do mapa do tesouro. A partir disso, se inicia uma jornada à ilha onde o tesouro está enterrado.
Enumeram-se, então, componentes que são velhos conhecidos e até clichês, mas que foram mencionados pela 1ª vez nesta obra: o estereótipo do pirata da perna de pau e com o papagaio no ombro, o mapa do tesouro com um X determinando o local, a bandeira preta com um esqueleto desenhado...
Stevenson teria desenhado um mapa com seu enteado e criado o enredo com base nesse desenho. É a típica "história para garotos" do período vitoriano.
Indo por uma análise menos infantil, no séc. XIX, a Inglaterra ainda vivia as memórias do período de colonização das Américas. Tanto é assim que encontramos muitas referências a nomes famosos ligados à pirataria e à navegação.
Aqui é importante citar que Portugal e Espanha chegaram primeiro ao continente americano e iniciaram a exploração antes dos britânicos.
A Espanha foi a 1ª a encontrar ouro, e seus navios eram constantemente saqueados, prática que conhecemos como pirataria.
Agora vem a pergunta cuja resposta eu temo: de quem era o ouro escondido na ilha?
O que dava o direito a esses homens de buscar esse tesouro que não era seu, não era dos piratas, não era do capitão Flint, mas sim o resultado de outro tipo de saque (ou de exploração, caso queiram uma palavra mais suave)?
Parece que as histórias para garotos eram um jeito de ensinar à nova geração de homens ingleses como ser um explorador usando de boas maneiras.
Falo isso só pra refletir, a narrativa é ótima e vale a pena a leitura!