Gui Paschoalini 15/06/2020
Moldando o imaginário popular
Robert Louis Stevenson é um daqueles autores que definem a forma como eu e você imaginamos algo desde pequenos: neste caso, os piratas! Só por isso já valeria uma leitura. Ele não viveu, entretanto, a Era de Ouro da Pirataria (séculos XVII e XVIII), mas resgatou diversos escritos sobre o tema, desde diários de bordo a ensaios acadêmicos. Muito fascinado por aventuras, de 1881 a 1883 ele se envolve na criação deste romance com o objetivo de entreter seu sobrinho adolescente... Sorte a nossa.
A Ilha do Tesouro conta a história sob o ponto de vista de Jim Hawkins, um garoto de origem humilde que trabalha com os pais na estalagem da família à beira mar, a Almirante Benbow. Um (não tão) belo dia, aparece à porta um homem misterioso, de modos rústicos e grosseiro, desejando se hospedar. Esse é Bill Bones, marinheiro de longa data, viciado em rum, idoso e dono de um baú antigo cuja chave leva consigo presa ao corpo. Mais tarde, Billy confessa ao nosso Jim possuir um mapa do tesouro dentro do tal baú. Em meio às reviravoltas vividas por Jim e seus pais, Bones e outros personagens, nosso protagonista não vê outra alternativa se não subir a bordo do navio Hispaniola e ir à caça ao tesouro. O arquétipo do pirata trapaceiro, caçador de fortunas, sujo, grosseiro e beberrão perpassa a obra. O grande vilão, Long John Silver, é tudo isso e mais um pouco: ardiloso e ganancioso, inescrupuloso e inteligente, o pirata tem até perna de pau e papagaio de estimação!
Cabe fazer uma crítica à misoginia não do autor, mas sobretudo do Período Vitoriano. Stevenson diz que sua história foi 'escrita para garotos'. De fato, a única personagem feminina é a mãe do Jim, que, no entanto, é pouco relevante no enredo. Mesmo assim, eu recomendaria a obra para qualquer identidade de gênero. Escrito em linguagem simples, com personagens carismáticos e complexos (muitas vezes ambíguos), lotado do que seria no futuro elementos da cultura pop, A Ilha do Tesouro é um refúgio para quem está doente de Brasil. A despeito do jargão marítimo, aventurar-me com Jim pelas praias, matas e montanhas da ilha, navegar no Hispaniola em meio às intrigas e conspirações da tripulação e beber rum em frente à fogueira cantando 'IO-HO-HO e uma garrafa de rum' junto aos marujos foi uma ótima terapia, fuga para um mundo já bem conhecido por todos nós.
'Bebe que o diabo também te leva junto / IO-HO-HO e uma garrafa de rum'