Nay 09/05/2015Cabe a morte ao ser humano?Após terminar a leitura desse último volume me peguei um tanto confusa com as minhas ideias. Resolvi buscar na internet diferentes opiniões sobre os acontecimentos finais e seus significados, e me deparei com muitas interpretações interessantes e válidas. Eu estava um pouco contrariada, acreditando que o final não havia feito jus à essa história incrível que é Monster, mas pude reunir melhor meus pensamentos e cheguei a algumas conclusões.
Desde o começo, o que sabemos sobre Tenma é que ele é um cirurgião que faz tudo o que está ao seu alcance para salvar qualquer pessoa. Para ele, a importância da vida é irrefutável e nenhuma vale mais que outra. Tanto que há nele um conflito interno devido as políticas do hospital em que trabalha. Mas então, seu senso de dever para com todos o faz salvar um assassino, que chega a ele na forma de uma criança, Johan, ao invés de uma figura política importante.
Acompanhamos então a jornada de Tenma em busca do paredeiro de Johan, tentando "consertar seu erro" de salvar o "monstro" e treinando a si próprio para o matar. Várias reviravoltas e descobertas seguem, com tragédias sim mas também crescimentos individuais de personagens que vão aparecendo e que ajudam o próprio Tenma a mostrar quem ele é realmente. Gosto muito de uma passagem no meio da história em que ele se indaga: teria ele salvado Johan se soubesse o que este havia feito? -, mostrando certa fragilidade mas ainda sim uma solidez moral difícil de se ter, já que a maioria das pessoas não pensaria duas vezes sobre o que acham certo.
Mas não quero me estender nisso, quero falar do final.
O ápice final se tornou um tanto quanto insatisfatório para mim à primeira vista, mas cumpriu com toda a ideologia reiterada nos outros volumes. Quando Anna surge disposta e perdoar o irmão em vista de que ela acredita ter grande responsabilidade no que aconteceu, já que quase o matou, e Johan ameaça matar Winn se Tenma não atirar nele, eu acreditei que finalmente o médico iria ceder a gravidade da situação e matar Johan, pois a vida do garoto estava em risco. Mas então o pai alcoólatra de Winn acorda de seu torpor e atira em Johan para salvar seu filho. Eu pude ver aí uma redenção para Tenma, que talvez não se sairia muito bem tentando escapar de sua encruzilhada moral - "nenhuma vida vale mais que outra." -. Podemos até dizer que foi o amor que acabou causando um quase fim para Johan. Porém, quando Tenma opera novamente Johan e salva sua vida pela segunda vez, eu pude entender que a questão não era se Johan deveria ou não viver, mas sim se cabia ao Tenma se recusar, como médico e ser humano, a salvá-lo no final.
Apesar de deixar uns fios soltos, Urasawa dá deixa para nossa imaginação e instiga diferentes conclusões. Acho que ele queria mesmo finalizar sua série com a complexidade de um dilema monstruoso, este que dá título à resenha, dando aos personagens um fim sem término, como se abrisse novas oportunidades e enaltecesse a vida.