Mauricio (Vespeiro) 03/04/2018O caminho sombrio percorrido pelo medo até a melancolia. Farol HQ é um selo da Editora Farol Literário. Em 2014, a editora lançou uma mini-coleção com quatro contos de Edgar Allan Poe em versões para HQ. São vários artistas fazendo as adaptações e ilustrações, sempre com a tradução de Cassius Medauar. Cada edição conta com 72 páginas, com ótimo acabamento, papel de excelente gramatura e uma impressão de altíssima qualidade que ganha destaque num projeto gráfico em que as cores são quase como personagens das histórias. Aliás, essa é uma característica digna de nota. Em “A Queda da Casa de Usher” (verde), “O Poço e o Pêndulo” (amarelo), “Assassinatos na Rua Morgue” (vermelho) e “O Coração Delator” (azul), as cores são exploradas de forma estratégica, carregando informações, alterando o clima e acrescentando elementos que dão suporte à narrativa. Os contos são, em geral, foram hiper-resumidos, deixando lacunas importantes, o que compromete bastante a profundidade do suspense, característica fortemente presente no estilo clássico de Poe.
O conto “A Queda da Casa de Usher” foi publicado em 1839 e aborda o medo de forma ampla e ao mesmo tempo concisa numa história onde transborda o estilo gótico de Poe. O medo do real, do imaginário, da perda, da morte, do sobrenatural, da doença, da solidão. Roderick Usher mora com a irmã Madeline numa enorme mansão no meio de um pântano e afastada da cidade. Doente, ele escreve para um amigo de infância pedindo companhia para aqueles que considera ser seus últimos dias. O amigo atende e encontra uma casa em processo de profunda degradação, um estado que reflete a degeneração moral e psicológica de seus moradores. Essa fusão é tão bem explorada por Poe que transforma a visita em um evento angustiante, tenebroso e... mortal. Há múltiplas leituras e camadas a serem interpretadas, conduzindo o leitor para o limite entre a realidade e o fantástico.
A adaptação para o formato de HQ foi feita pelo quadrinista Matthew K. Manning e as ilustrações ficaram por conta de Jim Jimenz. O resultado nos traz uma diagramação moderna, dinâmica, desenhos com traços elegantes, competente uso de luz e sombra, palheta de cores bem escolhidas, incluindo e um magnífico uso estratégico da cor verde. O contraste cromático com as páginas de fundo preto favorecem o clima sombrio que a história exige. As ilustrações deixam um pouco a desejar no que se refere às expressões dos personagens. Já a história muito reduzida faz com que os diálogos fiquem bastante empobrecidos.
Nota do livro: 6,66 (3 estrelas).