André 27/01/2023
Reconstrução pelo Desconstrutor: o Herói do Século XXI
Alan Moore foi alçado a glória imortal do mercado de quadrinhos na década de 1980 pelo horror do Monstro do Pântano, mas especialmente pela desconstrução do gênero do super herói levada à cabo em "Marvelman" e "Watchmen".
Esses marcos veem inspirando o gênero desde então, que tomou sua descontrução como regra e anda mais perdido que galinha sem cabeça desde então.
Desde então, Moore reagiu a essa infâmia de duas maneiras: atualmente, através da rejeição completa do super herói como tóxico, como podemos ver no recente "Iluminações"; mas em um período anterior, entre 1990 e 2000, ele procurou reabilitar o super herói para o que via como o seu verdadeiro público, crianças e pré-adolescentes, através de "Supremo" - sua versão do Super Homem - e "Tom Strong".
Na visão Mooresca, Strong é o herói primordial - em igual partes Super Homem, Tarzan, Doc Savage, Flash Gordon e Sherlock Holmes - e ele o concede caraterísticas que o permitem ser o herói primordial adaptado ao século XXI: sua origem é uma certa paródia da idealização científica exagerada vitoriana e do pós-guerra, mas vê valor sim no "herói da ciência"; Tom Strong cresce em um território de não-europeus, como o Fantasma, mas eles são incluídos como protagonistas nessa história, sendo Strong - para a surpresa cínica de Moore - o primeiro super herói branco em um relacionamento estável interracial.
Nas histórias aqui relacionadas, temos aventuras, sim, juvenis (mas com referências literárias e científicas o suficiente para estimular o leitor a ir além) de um herói clássico sem um pingo de ironia enfrentando monstros, alienígenas, nazistas e arquinimigos fantasiados com a sua família, seus aliados robô-mordomo e gorila falante, e com otimismo.
Quem dera a indústria de quadrinhos, nesses quase 30 anos, tivesse entendido a dica do bardo.