Dhiego Morais 12/07/202030 dias de noiteA última faixa luminescente, o último resquício de luz no horizonte se esvai rapidamente, deixando tudo apagado, sem brilho, sem vida. Naquela terra estranha, pouco hospitaleira e terrivelmente fria, a população se prepara para mais um ano, para mais um período de trinta dias de noite, quando a cortina de neve cerca a cidade e nada além do suspeito e do macabro acontece. A temporada de caça começou.
“É assim que deveria ser: humanos são garrafas esperando para serem abertas.”
30 Dias de Noite, uma história em quadrinhos roteirizada por Steve Niles (Criminal Macabre, Simon Dark, Mystery Society e Batman: County Line) e ilustrada por Ben Templesmith (The Squidder; Wormwood, Gentleman Corpse Omnibus e Gotham by Midnight) retorna às prateleiras brasileiras, agora pelas mãos da Darkside Books, em seu selo Darkside Graphic Novel, e em volume único, reunindo as três partes de um épico de terror majestoso.
Em 30 Dias de Noite, o leitor conhecerá a pacata e inóspita cidadezinha de Barrow, no norte do Alasca. Diferente das outras cidades no inverno, Barrow, devido a sua localização, fica por 30 dias sem ver o sol nascer, imersa em completa e gelada escuridão. É justamente por sua natureza atípica que a cidade se torna palco de grandes acontecimentos e oportunidades.
Logo nas primeiras páginas conhecemos alguns protagonistas, tais como o casal Eben e Stella, xerife e policial, respectivamente. Enquanto se preparam para o período de escuridão, figuras estranhas começam a rondar Barrow, seguido de acontecimentos macabros: um grupo de vampiros decidiu fazer da cidade o seu restaurante fast food.
Diferentemente da maioria das obras que retratam figuras vampirescas, 30 Dias de Noite é uma obra que brilha e se destaca ao entregar um conteúdo devotado à mitologia tradicional, dando o protagonismo às criaturas notavelmente sanguinárias, violentas e assustadoras, um reflexo da bestialidade, do horror e do mal extraído da alma humana. Tem-se aqui um verdadeiro tributo à criatura sobrenatural imortalizada por Bram Stoker.
A história segue por rios de sangue, em ritmo desenfreado e que ruma a todo o momento para a hecatombe de Barrow. Corpos são encontrados desmembrados ao cão; fogo consome lentamente as gélidas construções e sombras semimortas vagam em êxtase e contínua fome pelos corredores de uma cidade em extinção. Por semanas a fio, o playground para vampiros.
Marlow, Vicente e Lilith são os principais nomes entre a legião de vampiros que passam pelas três partes da HQ. Neste ponto é interessante observar a estrutura de poder, a hierarquia e a política estabelecida pelas criaturas e desenvolvida por Steve Niles, o roteirista. Ao longo das páginas podemos assimilar a influência delas em nossa sociedade, bem como o que pode ser tido como mito e o que pode ser comprovado, baseado em suas interações. De todo o modo, uma coisa é inegável: você não gostaria de encontrar um dos vampiros de Niles e Templesmith sozinho, à noite.
“O que é mais patético: a minha tentativa de salvar pessoas ou voc~es se alimentarem delas para tentarem manter os seus corpos podres vivos por mais um dia?”
A arte de Templesmith é um ponto que pode agradar ou não os leitores. Os traços são na maioria das vezes simples e grosseiros, como se o próprio ilustrador estivesse protagonizando a história, fugindo de seus caçadores. São borrões nas cenas de violência e morte, dignas simulações do ato de ser golpeado, atingido fatalmente. Os traços ganham foco nos momentos de maior contemplação e nas cenas mais iluminadas. Embora a ideia case perfeitamente com a atmosfera fria e sanguinolenta da HQ, os traços podem confundir o leitor.
Em resumo, 30 Dias de Noite é um resgate da literatura de horror e terror vampiresca, um tributo aos fãs do gênero e uma leitura assustadoramente agradável para acompanhar nas noites frias e silenciosas, quando a imersão é aprofundada pelo instinto de que talvez o sobrenatural esteja mais próximo de nós do que imaginamos.
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