Entende-se por movimento negro contemporâneo grupos e organizações que, no país, desenvolvem a luta e o combate ao racismo desde os primórdios da década de 1970. Tomou-se esse período como ponto de partida por ele determinar o marco da reinserção do Movimento Negro no cenário político ao apontar as relações raciais como um dos principais aspectos das contradições existentes entre a sociedade e o Estado no Brasil. Tal movimento tem como uma de suas estratégias a denúncia da discriminação, do preconceito e do racismo existente no país e o desmascaramento da farsa da democracia racial alardeada pela ditadura militar – no Brasil não existia racismo!
Quarenta anos depois, podemos afirmar que essas estratégias foram exitosas e influenciaram e tornaram possíveis mudanças nas condições de vida e trabalho da população negra em anos recentes. A pretensa democracia racial tornou-se indefensável e o racismo é visto como um dos impasses a se rem solucionados para a construção de um Brasil mais justo e igualitário. Vários foram os pensadores socialistas e de esquerda, negros e brancos, homens e mulheres, que contribuíram para a formação dos ativistas que construíram e constroem esse movimento. Florestan Fernandes foi um deles. Um lutador socialista e de esquerda que destinou seu prestígio e autoridade teórica e política em favor da luta de combate ao racismo.
O que fica explícito em seus estudos e livros publicados e em parte presentes no conjunto de textos apresentado nessa nova edição de Significado do Protesto Negro. São textos que relacionam capitalismo e racismo para que se compreenda a desigualdade racial e a condição de pobreza da população negra que os representantes das elites da casa-grande, com o golpe em curso no Brasil, tentam manter como garantia da manutenção de seus privilégios e postos de mando e opressão, o que, juntos com Florestan Fernandes, aprendemos a enfrentar.
Flávio Jorge Rodrigues da Silva Membro da Soweto Organização Negra e da Executiva da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen)
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