Violentas discordâncias opunham as igrejas cristãs no fim do século XVI: a existência do purgatório, a presença do corpo de Cristo no pão eucarístico, o estatuto da Virgem Maria, o uso de imagens nos locais de culto, o matrimônio dos sacerdotes, e muitas outras ainda, que matavam gente e faziam guerras. Numa coisa pelo menos estavam todas de acordo: Giordano Bruno não tinha lugar em nenhuma delas. Quando compôs a obra que o leitor tem em mãos, Bruno já tinha sido excomungado de três igrejas - a católica, a calvinista e a luterana. Pouquíssimas vezes suscitou Bruno tamanha unanimidade - como esta de ser quase um herético ecumênico -, e não é dos seus menores feitos a inimizade que as igrejas organizadas lhe votaram. Em "Da magia" descobre-se um Giordano Bruno ocultista e esotérico, o que levantou aos olhos positivistas uma questão de coerência: ou se tratava de um precursos da ciência moderna e seus escritos sobre magia, seu panteísmo, seu imanentismo eram equívocos, quem sabe apócrifos; ou, se não o eram, faltava a seu autor a pureza necessária para entrar no clube de Galileu e Newton. Mas na verdade - saberá quem ler esta obra - nota-se nele uma certa simpatia pelo Diabo (o Diabo não é tão mau quanto pintam), o que também contribuiu para seu fim - Bruno foi acusado de blasfêmia, imoralidade e heresia.
Desta guerra entre Bruno e o resto do mundo não é difícil adivinhar quem foi o único morto.
Filosofia