Imprevisível. Foi esta a palavra tantas vezes ouvida no início da invasão russa da Ucrânia e pelo tempo fora. A princípio duvidava. Será que iriamos mesmo entrar numa guerra? Parecia-me impossível que, em 2022, não existissem vias de entendimento suficientes para evitar um conflito de grandes proporções no continente europeu. Estava enganada. A 24 de fevereiro de 2022 eu e o repórter de imagem David Araújo encontrávamo-nos na cidade de Kiev, alvo prioritário da invasão russa de larga escala. A nossa missão era clara: dar testemunho, apesar de todas as limitações, do que estava a acontecer. Passámos por dias de grande incerteza, silêncio, amargura, medo, exaustão. Às vezes pequenas surpresas, breves alegrias. E depois aquela súbita vertigem de um míssil a mudar o correr das vidas. E os exemplos de resistência e resiliência de um país a ser interrompido e invadido – porém, insubmisso. Reunimos essa caminhada pelos primeiros meses de guerra, rente ao chão, onde estão sempre os civis em qualquer conflito. (Cândida Pinto)
Não-ficção