Se na poesia e nas artes dominam ou já dominaram os temas das grandes capitais ou da nostalgia de um campo perdido, neste livro os leitores encontrarão fragmentos de memórias de um rapaz do interior do Paraná. Mas não meros fragmentos: poemas em cuja brevidade se adivinha um longo processo de condensação e maturação. Se tem olhos de ver, quem ler verá, entre outras imagens e histórias, os olhos tristes de um elefante, a admiração de um menino pelo heroísmo do pai, um fortuito abraço à beira das águas infinitas do Rio Negro, que inauguraram os mistérios do amor e suas decepções, um reencontro de amigos já despidos da inocência da juventude que pensa poder o infinito. Mas acima de tudo, um manifesto poético em favor da generosidade, da fé nas palavras, da importância que é termos um rapazinho dum interior paranaense sem glamour ou ruínas românticas usando de seu talento para cristalizar em poesia a sua terra, com suas ânsias, seus medos, seus desejos. Este livro é uma homenagem ambígua à cidade do autor, homenagem que reside justamente entre a esperança de um futuro grande e a decepção de um presente-quase-desperdiçado. Quase porque a poesia de Marco Aurélio de Souza servirá de testemunho a, quem sabe, outros jovens sedentos por dar a ver em palavras as suas cercanias. (Texto de Pedro Sáfara)
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