As transformações advindas do progresso apresentam um novo cenário urbano de uma cidade com novas relações sociais, compondo um rico painel dos tempos modernos. As crônicas que compõem A alma encantadora das ruas (1908), o segundo livro de João do Rio, — por meio de um apurado olhar jornalístico que se entrelaça a um esmerado texto literário — retratam um Rio de Janeiro um tanto distinto daquele da belle époque que teve por muito tempo Paris como um referencial de comportamento. Os textos ambientam uma cidade que não respira somente os ares dos cafés-concertos, mas absorve e exprime uma efervescente vitalidade que apenas as ruas, a população carioca, especialmente a mais humilde, poderiam apresentar. A descrição delicada, honesta e, até mesmo ambígua das ruas, manifesta o espírito da cidade em seus mais íntimos aspectos.
Crônicas / Literatura Brasileira