Só uma mulher que fosse ao mesmo tempo exímia romancista seria capaz de descrever com tanta perícia e profundidade os abismos de uma alma negra de mulher. Um homem teria falhado na tarefa ingente de penetrar os motivos, descobrir os sentimentos, analisar as reações e dissecar os atos para expor em todos os seus matizes e contrastes essa mulher que pairava sobre uma família e sobre várias vidas como um anjo mau. Um de seus filhos, dotado de agudo senso crítico, pensou, um dia, ao ver-lhe as mãos, que eram “mãos de uma assassina”. Levara a tristeza e à morte prematura o marido, um jovem alegre com a alma cheia de esperanças e de música, e fora uma força implacavelmente metódica de destruição e de morte na vida de seus filhos. Desviou-se para a embriaguez e o desejo de suicídio, para a ambição que enregelava a alma, para a negação da própria personalidade a fim de servir aos seus caprichos e cobiças. Entretanto, suas vitimas a amavam e só ela e talvez Satanás pudessem saber por quê. O retrato vivo dessa má mulher é pintado pela autora magistralmente contra o fundo turbulento da vida dos Estados Unidos no século passado antes da Guerra Civil do Norte contra o Sul e durante esse agitado período. Um romance grandioso pela magnitude do cenário no tempo e no espaço, pela verdade autêntica dos personagens e pelo seu tratamento, presente sempre, do velho e insolúvel problema do mal.