Ao longo da primeira metade do Quatrocentos, expedições militares levaram à ocupação efetiva de domínios na França pleiteados pelos monarcas ingleses. A despeito do sucesso dessas campanhas iniciadas em 1413, a governação daqueles territórios até primórdios da década de 1450 foi marcada, segundo relatos conhecidos, por instabilidades decorrentes da conduta inadequada dos guerreiros de um lado e de outro da contenda. Tais descaminhos foram alvo das inquietações de William Worcester (1415-1480/5?), letrado que denunciou em seu tratado Boke of Noblesse um fazer bélico contemporâneo descompassado, pouco virtuoso e marcado por desvios, distante, pois, dos modelos recomendados aos cristãos. Suas reflexões, quando comparadas com outras externadas por seus contemporâneos, trazem indicações sobre as etapas de organização e execução do conflito e permitem questionar características do fazer marcial quatrocentista tanto dos adversários franceses como dos próprios guerreiros ingleses. Ao
tentar para esse aspecto, o objetivo desta investigação é perquirir o que se julgou condenável no empreendimento das contendas, interrogando, a partir da produção escrita inglesa, a redefinição dos caminhos para a condução do conflito e dos planos de conquista. Em síntese, a pesquisa dispõe-se a questionar sobre uma fração particular da história da guerra: os juízos e avaliações sobre os combatentes, esmiuçando seu papel como espelho para interpretar as condutas dos povos para além do próprio conflito.
História