No verão de 1914, Sir Ernest Shackleton parte a bordo do Endurance em direção ao Atlântico Sul. O objetivo de sua expedição era cruzar o continente antártico, passando pelo Pólo Sul. Mas, a apenas um dia do ponto de desembarque planejado, o Endurance fica aprisionado num banco de gelo no mar de Weddell e acaba sendo destruído.
Por quase seis meses, Shackleton e sua tripulação sobrevivem em placas de gelo em uma das mais inóspitas regiões do mundo, até que conseguem iniciar sua tentativa de retorno à civilização nos botes salva-vidas.
Através dos diários e entrevistas com alguns membros da expedição, Alfred Lansing reconstrói as dificuldades que a tripulação do Endurance enfrentou. Em uma narrativa fascinante, Lansing descreve como Shackleton conseguiu que, após quase dois anos do início da viagem, todos retornassem com vida.
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Pouco antes da Primeira Guerra Mundial, Sir Ernest Shackleton decidiu montar a primeira expedição que faria, por terra, a travessia da Antártica. Antes da conquista do Pólo Sul pelo norueguês Amundsen em dezembro de 1911, Shackleton - um irlandês cujo espírito aventureiro se adaptara mal ao mundo dos negócios - era um dos homens que sonhavam em ser o primeiro a pisar no Pólo: participou da expedição de Scott de 1901-04, mas teve de voltar à Inglaterra por doença, e em 1908-09 comandou sua própria expedição, que chegou a cerca de 150 quilômetros do objetivo.
A Expedição Imperial Transatlântica deixou Londres em agosto de 1914, no mesmo momento em que eclodia a Grande Guerra. E, por mais ousados que fossem os planos de seu organizador e comandante, ninguém poderia prever a extraordinária aventura que aguardava seus 28 membros: devido à formação de gelo no mar de Weddell, o navio que os transportava, o Endurance, construído especialmente para a navegação em condições polares, não chegou sequer a atingir a costa da Antártica para desembarcar os expedicionários. Depois de vários meses preso num banco de gelo compacto, "como uma amêndoa numa barra de chocolate", o degelo da primavera só fez piorar a situação do Endurance, que acabou esmagado pela fortíssima pressão dos grandes blocos desprendidos e naufragou.
Começa então a parte mais incrível da aventura de Shackleton e seus homens. Acampados em condições precárias numa banquisa, só tendo conseguido recuperar parte das provisões e equipamentos transportados no Endurance, passaram cerca de seis meses à deriva no mar de Weddell, depois de algumas tentativas frustradas de completar a viagem a pé até o continente. Finalmente, o banco de gelo se separou em banquisas afastadas, e conseguiram lançar ao mar os escaleres que haviam recuperado do naufrágio. Ao cabo de violentas provações, chegaram a terra firme em uma ilha próxima da ponta da península antártica (então conhecida como península de Palmer), a ilha Elephant.
De lá, um grupo de seis homens comandado pelo próprio Shackleton empreendeu a façanha notável de atravessar numa pequena embarcação um trecho de 800 quilômetros que está seguramente entre os mais assustadores do planeta, a temida passagem de Drake, varrida por ondas gigantescas e sujeita a condições climáticas inclementes, de frio intenso e ventos com força de furacão. Por fim, depois de duas semanas de navegação acidentada e de uma fantástica travessia a pé de um terreno nunca antes mapeado na ilha Géorgia do Sul, chegaram à estação baleeira norueguesa lá situada, de onde Shackleton retornou para resgatar seus companheiros, já quase desesperançados, acampados na ilha Elephant.
Em 1959, o escritor Alfred Lansing reconstituiu, a partir de documentos e entrevistas com sobreviventes, a incrível saga de Shackleton e seus homens. O livro conta essa aventura verdadeira com um eletrizante requinte de ação e detalhes, superando qualquer coisa que pudesse ter sido escrita pelo ficcionista dotado da mais ousada das imaginações.
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