"A invenção da mitologia", de Marcel Detienne, publicado em 1982 , foi o marco inicial de um "intenso debate" desenvolvido ao longo das duas décadas seguintes, gerado pela sua "tese cortante" de que o mito e a mitologia são duas invenções arbitrárias e inadequadas para o estudo de toda e qualquer tradição.
Mito, originalmente, significa "discurso", "conjunto de palavras que têm um sentido, um propósito"; pertence à ordem do legein e não contrasta com lógos, "termo de valores semânticos vizinhos que se referem às diversas formas do que é dito". Para assumir o sentido de "mentira", "fábula", "discurso equivocado e ilusório", em contraposição ao lógos qualificado como verdadeiro, lógico, racional, foi preciso um trabalho de re-significação por parte de saberes como a História, que elaboraram sua legitimidade denunciando a tradição. Ao final, mito não se tornou propriamente um conceito, mas a noção que permitiu, e permite, à "história verdadeira" se afirmar como tal. Este é um dos aspectos importantes da crítica radical ao mito, pois coloca em dúvida o poder analítico da antítese lógos-mito e pode abrir novas perspectivas para compreensão do que são, hoje, a história e o historiador.