Para as crianças, o Saramago sempre prolixo economiza palavras; e ainda assim continua transbordando subjetividade.
O autor alega falta de jeito ao escrever livros para o público infantil, mas o que diz considerar uma tentativa é, sem dúvida, um sucesso.
As ilustrações de João Caetano são tão delicadas e encantadoras quanto a poesia do autor que fez questão de que fosse mantida a ortografia vigente em Portugal.
Ao contrário do Príncipe que guarda a pequena rosa, o personagem é acolhido pela grande flor. Sem grandes pretensões, apenas a arte - das melhores - de quem sabe nos levar ao lugar onde vivem as emoções e a imaginação. É impossível conhecer o menino (de?) Saramago e não criar para a sua história diversos significados e inúmeras versões.
Não é um livro infanto-juvenil como todos os outros, é verdade. Talvez os recém-alfabetizados, não iniciados na literatura ou não habituados aos livros devam estranhá-lo. No entanto, nada justifica que uma só criança seja privada de experimentar. E, por criança, entenda-se: todos nós.
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"A maior flor do mundo" é uma magnífica história para crianças, mas, antes de tudo, é um legítimo Saramago.
Transformando-se em personagem, o autor nos conta que uma vez teve uma ideia para um livro infantil, inventou uma história sobre um menino que faz nascer a maior flor do mundo. Não se julgava capaz de escrever para crianças, mas chegou a imaginar que, se tivesse as qualidades necessárias para colocar a ideia no papel, ela resultaria verdadeiramente extraordinária: "seria a mais linda de todas as que se escreveram desde o tempo dos contos de fadas e princesas encantadas...".
É dessa fantasia de grandiosidade que nasce o livro. Os leitores são chamados para uma divertida brincadeira, pois Saramago narra-lhes a história do menino e da flor não como se ela fosse a história de verdade, mas como se fosse apenas o esboço do que ele teria contado se tivesse o poder de fazer o impossível: escrever a melhor história de todos os tempos.
Entrando no jogo com o autor, os pequenos leitores vão saber que ninguém nunca teve nem terá esse poder. Vão saber também que a literatura é o lugar do impossível: o menino desta história faz uma simples flor dar sombra como se fosse um carvalho. Depois, quando ele "passava pelas ruas, as pessoas diziam que ele saíra da aldeia para ir fazer uma coisa que era muito maior do que o seu tamanho e do que todos os tamanhos". Como nos velhos livros de literatura infantil, Saramago conclui: "E é essa a moral da história".