Antes de ser uma história sobre futebol, ‘A maldição dos eternos domingos sem derby’ é um romance familiar, uma narrativa que demonstra a força agregadora do futebol, a união de pessoas de uma mesma família em torno de uma paixão por um clube, alicerçando e renovando as relações de parentesco.
Trata-se de uma ficção calcada em realidade. Retrata a Campinas do final dos anos 1950 e dos anos 1960 e resgata a rivalidade entre torcedores do Guarani Futebol Clube e da Associação Atlética Ponte Preta, exacerbada naquele período em razão do distanciamento entre os clubes campineiros.
A Ponte, na segunda divisão do campeonato paulista durante nove anos, era motivo de felicidade para torcedores do Guarani, que não poupavam os inimigos com ironia e mordacidade pesadas.
Sem o clássico derby campineiro em caráter oficial, os anos 1960 marcaram a luta incessante da Ponte Preta para retornar à elite paulista, levando sua torcida a uma paixão desenfreada que constituiu a principal alavanca para a gloriosa volta em 1969.
Os eternos domingos sem derby foram, também, fundamentais para a o fortalecimento de Guarani e Ponte Preta e para a construção de dois clubes vibrantes e celeiros de grandes craques nos anos 1970 e 1980.
O livro enfoca o ano de 1965, uma tarde de um domingo em que, precisando de uma vitória simples no Estádio Moisés Lucarelli para retornar à divisão de elite, a Ponte Preta perde para a frágil Portuguesa Santista com um gol marcado pelo desconhecido Samarone, aos cinco minutos do primeiro tempo, encerrando uma jornada brilhante do clube de Campinas e pondo fim a um sonho acalentado há cinco anos pela imensa e apaixonada torcida pontepretana.
Nessa tarde, em um sobrado no centro de Campinas, torcedores da Ponte que não conseguiram ingressos são os “televizinhos” na sala do Tio Lula, um ser fanático e apaixonado pelo Guarani. Pode-se imaginar o que acontece no momento do gol de Samarone e ao final da partida.
O relato reconstrói o personagem favorito de Bebeco, sobrinho de Tio Lula, que conseguia reunir em sua personalidade qualidades e defeitos díspares: “Era elegante e boquirroto, amistoso e fanático, briguento e maledicente. Tinha uma boca profética que agradava a torcida bugrina e arrepiava a pontepretana”, conta o autor.