O cemitério como lugar no qual se celebra a vida acima de tudo. Para a protagonista desse livro de José Alberto Wenzel, cuidar de lápides, resguardar a memória que se perpetua na forma de mármores ou granitos, é uma arte, à qual vale a pena dedicar tempo. Não é apenas trabalho, serviço: é um refúgio. Em sua própria história, em seu próprio passado, muitas coisas seguem obscuras, e talvez só mesmo uma grande afinidade, uma amizade, poderá iluminar aquilo a que a própria lembrança jamais poderia alcançar.
Os enredos de Wenzel costumam apoiar-se sobre elementos que forjam a comunhão com o mundo natural, que situam o ser humano no todo, sujeito a um ciclo: de repente, o homem se encontra neste mundo, e tudo o que sabe é que uma hora precisará deixá-lo. Deixá-lo? A exemplo de sua novela A alma morre antes, há aqui, uma vez mais, a presença de cobras, duas cobras-verdes. Ou serão chaves? Como refere a filosofia perene, tem-se a crença do eterno retorno, da eterna permanência, simbolizada na cobra que engole o próprio rabo. Serão assim nossos passos? Cada passo adiante será também um passo para mais perto do todo? Nas camadas de vivência de seu texto, Wenzel convida à reflexão.
Romance