Logo nas primeiras linhas de A obscena senhora D o leitor é aspirado pela voracidade do texto. No entanto, o que ocorre aqui é diferente daquele impulso comum em livros de suspense, que nem o sono consegue deter.
O mistério na obra de Hilda Hilst (1930-2004) não acontece na trama, mas na forma como sua escrita nos lança num abismo, arrasta como uma vertigem. Se o princípio sugere um monólogo, a multiplicação de vozes e de registros que vêm em seguida impede a certeza na unidade de alguém que narra.
A letra D no título é outra manifestação desse mistério, uma indeterminação que sugere experiências de desamparo, desaparecimento, desabrigo ou até mesmo Deus.
O fluxo quase irracional das frases, as anomalias gramaticais, o modo áspero com que a autora funde o sagrado e o profano podem dar a impressão de um livro difícil, daqueles que a maioria desiste antes do fim. Ao contrário destes, porém, A obscena senhora D é difícil de fechar. Quando acaba, dá vontade de recomeçar para sentir tudo de novo. Cássio Starling Carlos Crítico da Folha
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Literatura Estrangeira