Publicado em 1983, o romance A pianista foi um gerador instantâneo de polêmicas, sobretudo pela forma direta pela qual expõe as perversões sexuais da protagonista e sua conturbada relação com a mãe. Além disso, foi sentido como um soco no estômago pela moral da classe média austríaca, um triste prenúncio dos escândalos que temos acompanhado ultimamente, como entende o apurado posfácio de Marcelo Backes.
A escrita envolvente de Jelinek, com seu ritmo e idiossincrasia próprios, transportados com maestria ao português por Luis S. Krausz, narra em ordem não linear a história de Erika Kohut, concertista frustrada que se limita a dar aulas de piano no Conservatório de Viena. Aos 36 anos, Erika ainda mora na casa da mãe, com quem divide a mesma cama. A relação das duas é, ao mesmo tempo, de dependência e ódio. Em uma das primeiras passagens do romance, vemos uma luta que transcende o jogo de nervos e se torna física; por fim, Erika arranca um tufo dos cabelos da mãe. No transcorrer do romance, surge entre as duas o pior pesadelo para a mãe: um homem que se apaixona pela filha, Walter Klemmer, estudante de música. A devoção de Klemmer é manipulada por Erika, que faz dessa paixão uma neurótica relação masoquista – registrada numa carta em que a pianista pede para ser torturada pelo jovem –, enquanto deflagra uma guerra doméstica contra a mãe.
Literatura Estrangeira / Romance