Trecho do livro:
"Quem tem olho claro devia ver melhor. Olho pra verde todo dia santo ou não. E nada. O que olha não modifica o olhado. E o contrário também é verdade. Bosta varia, mas o marrom é o mesmo, sendo eu, ou outro que olha. Sei porque perguntei. Antes tinha inveja do olho verde que podia verde perto. Fiz essa graça na mesa e ninguém riu. Dois de todos fingiu que nem existia eu. Olho marrom não vê marrom direito. Foi o que pensei quando percebi que não era muito notado na sombra de casa fazendo silêncio. Só mãe com seu olho verde me percebia e me mandava comer. Foi então que perguntei pra mãe se ela via a bosta como eu. Mãe quase bateu na minha boca dizendo que era pecado reclamar da vida. Depois abraçou. Não entendi mas gostei. Tevez que dá vontade de falar de bosta de novo só para mãe colocar seu cheiro junto do meu. Mas mãe não faz mais isso. Só olha. E vê céu. E eu fico com uma vontade que é quase duas, de saber se o azul dela é mais bonito que o meu. Ainda é assunto que me cisma, o olhar de quem olha e o olhado aos olhos de quem vê. Quando pai tinha olho vermelho, pensava que devia ver muita coisa ruim, mas nada de dar medo. Só raiva. Achava então que ele devia de ver sangue onde não havia. E devido a raiva, tratava de colocar sangue onde o vermelho do olhar apontava. O ruim é que era sangue dos outros. Mas mãe não planta folha em casa para ter verde na parede, e assim fazer juz ao que olha. Nem eu cago na mesa para amarronzar tudo. Tive vontade certa vez. Mas não fiz. Claro. Sou cismado mas não sou burro."