A cidade de Salvador era, no fim do século XVIII, um dos portos mais importantes do hemisfério e o maior núcleo urbano da América do Sul. Essencial para o comércio entre Europa, África e América, Salvador foi, do século XVI até 1850, um dos principais pontos de entrada de escravos africanos no Novo Mundo.
A partir de uma perspectiva instigante e inovadora - a história do abastecimento da cidade -, o brasilianista Richard Graham analisa, com um misto de erudição e verve narrativa, um momento crucial e de profundas mudanças em Salvador e na colônia. Apoiado em diversos documentos até então bem pouco conhecidos, como alvarás de licença para a prática de comércio concedidos tanto a ambulantes como a donos de venda ou inventários de bens post mortem, o autor ilumina as relações e trocas sociais na cidade, sem recorrer a grandes esquemas interpretativos. Ao contrário, revela a vida e o papel concretos do indivíduo no tecido social, seu dia a dia, seu ganha-pão, as dificuldades diárias, as “negociações” que garantiam a subsistência e, em última instância, a existência material da cidade.
Alimentar a cidade não trata exatamente de comida, nem é uma história da alimentação. Antes, apresenta as relações na sociedade colonial com base no comércio da comida. Graham parte daí para mostrar como brancos e negros, homens livres, escravos e libertos, “brasileiros”, africanos e portugueses interagiam uns com os outros, e em quais termos. Com descrições vívidas da cidade e de seus habitantes - as roupas, o interior das casas, bens comerciados -, este livro é uma viagem às articulações mais essenciais, e portanto reveladoras, dessa sociedade atlântica.