Antígona, peça de Sófocles, aqui traduzida pelo grande escritor e dramaturgo Millôr Fernandes, traz o embate entre um rei e sua sobrinha. De um lado, há um monarca que acredita ter um poder sem limites, e, de outro, uma jovem rebelde decidida a assumir uma sentença fatal, alegando agir em nome de leis naturais, verdadeiramente supremas, que precederiam os poderes do soberano.
Na introdução, Adriane da Silva Duarte, professora de Literatura Grega na USP, afirma que Antígona “ganha relevância sempre que, assombrados pelos mortos, precisamos resistir”. E não é difícil para nós, leitores contemporâneos deste clássico, reconhecermos o que ela nos explica. O confronto entre Creonte e Antígona encena rivalidades centrais da experiência humana — a justiça e a injustiça, o direito natural e o direito positivo, a sociedade e o indivíduo, o Estado e a consciência, a prática e a moral, a submissão e a rebeldia, o masculino e o feminino, o velho e o jovem.
No posfácio, o aclamado diretor, ator e professor de teatro Amir Haddad pergunta: “Como posso atender um chamado forte dentro de mim sabendo que a realização desse desejo não será bem recebida pelo mundo em que eu vivo?” Essas são algumas das questões levantadas por esta peça, as quais desde a Antiguidade, têm se mostrado atemporais e, portanto, tão próximas à nossa vida.
Fábula