Como uma lanterna mágica, este livro brilhante fornece novas luzes para a arqueologia das mídias e suas projeções nos campos da filosofia, da literatura e da imagem. Stefan Andriopoulos justapõe os focos do idealismo alemão, do ocultismo e dos espetáculos de fantasmagoria no final do século XVIII e no começo do XIX para revelar ao leitor um domínio ainda mal-assombrado da história cultural: a espectralidade.
Valendo-se de textos de Kant, Hegel e Schopenhauer, Andriopoulos examina os modos divergentes pelos quais esses pensadores se apropriaram de figuras da mídia óptica e dos espíritos em suas "miragens", "saberes visionários" e "vidências". Trata-se de diferentes visões espectrais em convergência com as fantasmagorias dos físicos ilusionistas que aprimoraram o uso de lanternas mágicas para apavorar as plateias com projeções de fantasmas cada vez mais "vivos".
Essas aparições também se cruzam com a circulação do romance gótico, a ascensão da cultura impressa popular e as narrativas reais sobre fantasmas, que, dizia-se, eram responsáveis pelo "vício em leitura" e pela da perda do sentido de realidade. Examinando as páginas de "O castelo de Otranto" (1764), de Horace Walpole, e de "O visionário" (1789), de Friedrich Schiller, o livro aborda as práticas imersivas de leitura e a apropriação literária das aparições sobrenaturais como "recurso narrativo do choque", em diálogo com a "sequência de ampliações ópticas repentinas" que assaltavam os espectadores da fantasmagoria. Trata-se de uma perspectiva ampliada sobre o que se denominou a "estética do espanto", presente nas primeiras exibições de cinematógrafo, ou "cinema das atrações".
As representações românticas do magnetismo animal, da clarividência e do mesmerismo também são evocadas na análise de "O magnetizador" (1814), de E. T. A. Hoffmann, "A vidente de Prevorst" (1829), de Justinus Kerner, e "Os fatos no caso do Sr. Valdemar" (1845), de Edgar Allan Poe. Trata-se de metanarrativas, cujas representações das "forças invisíveis" são examinadas como modelo de análise do estado alterado de percepção do leitor imerso em transe, como um canal sensório que prefigura as relações entre cinema e hipnose, estudadas por Andriopoulos em seu primeiro livro, "Possuídos: crimes hipnóticos, ficção corporativa e a invenção do cinema", também publicado na coleção Artefíssil.
Além disso, enfocando a interação do ocultismo com a engenharia no início do século XX, Andriopoulos desvenda como as teorias mediúnicas relacionadas à telepatia, por um lado, e as pesquisas sobre a projeção dos raios catódicos, por outro, facultaram o surgimento da televisão. Este novo médium, considerado "o fantasma e a matriz do mundo", anunciou as afinidades atuais entre mídia e espectralidade. Agora a telepatia pode operar como uma figura epistêmica numa sociedade de corpos cada vez mais "ligados" e entregues aos imperativos de conexão e da telepresença.
Tadeu Capistrano
Escola de Belas Artes da UFRJ
Filosofia