Para um sujeito cego de um olho, William L. Shirer não se saiu nada mal como testemunha ocular da História. Ele nasceu em Chicago, em 1904. Aos 21 anos, já estava trabalhando como repórter na Europa. De quebra, acompanhou as andanças de Gandhi pela Índia, entre 1930 e 1931. Aos 28 anos, perdeu a vista em um acidente de esqui nos Alpes.
Quando Hitler assumiu o poder, em 1933, Shirer estava de olho nele. E quando o ditador anexou a Áustria, em 1938, já estava à postos em Viena. Depois, como correspondente em Berlim, acompanhou as tropas alemãs que avançavam fulminantemente pela França. Esteve presente à rendição em Compiègne. Só deixou a Alemanha em 1940.
Shirer era um jornalista durão, um apurador nato. Portanto, "Ascensão e Queda do Terceiro Reich" não poderia se resumir a suas memórias. Assim que a Segunda Guerra Mundial terminou, em 1945, ele voltou àquele outrora orgulhoso país. Foi um dos primeiros a se embrenhar e a sair com um relato coerente das montanhas de documentos produzidos pela zelosa burocracia nazista, inclusive diários de alguns de seus líderes. Muitos historiadores profissionais nunca o perdoaram pelo "furo". Seu livro, porém, nem carece de rigor nem padece de sensacionalismo. É a narrativa objetiva, embora às vezes chocada, de seu título.
Foi escrito nos anos 1950, durante o período que Shirer amargou longe das redações pela suspeita (absurda) macarthista de ser comunista. Publicado pela primeira vez nos Estados Unidos em 1960. Logo se tornou uma espécie de obra canônica sobre o Terceiro Reich, um relato minucioso sobre os delírios de grandeza que o engendraram e sobre a devastação que ele ocasionou e sofreu. A dureza do autor com a Alemanha manteve-se até o final de sua vida. Shirer morreu em 1993.
(texto de Arthur Dapieve)