Atividades de linguagem, textos e discursos

Atividades de linguagem, textos e discursos Jean-Paul Bronckart


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Atividades de linguagem, textos e discursos


Por um interacionismo sócio-discursivo




O INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO (ISD): O quadro sociointeracionista, proposto por Bronckart, leva a analisar as condutas humanas como ações significantes, ou como “ações situadas” cujas propriedades estruturais e funcionais são, antes de tudo, um produto de socialização. E, a emergência do pensamento consciente resulta da transformação do psiquismo herdado, para a apropriação e interiorização das significações contextualizadas social e historicamente. Sendo as condutas verbais concebidas, portanto, como formas de ação (de linguagem). A ação (discursiva) humana não deve ser dissociada das demandas sociais. Em resumo, para Bronckart, as propriedades das condutas humanas são o resultado de um processo de socialização, possibilitado especialmente pela emergência e pelo desenvolvimento dos instrumentos semióticos. As produções semióticas autônomas (pela distância nas nas relações entre o ser humano e o meio) se configuram em organizações de signos dotados de autonomia parcial. Assim, a semiotização dá lugar ao nascimento de uma atividade que é propriamente de linguagem e que se organiza em discursos ou textos. Os signos são produtos da interação social (do uso) e se organizam nos textos que continuam sob a dependência do uso e, portanto, os significados que veiculam são estáveis apenas momentaneamente, em um determinado estado sincrônico (artificialmente). É através desses textos e desses signos com significações sempre moventes que se constroem os mundos representados definidores do contexto das atividades humanas, esses mundo, por sua vez, também se transformam permanentemente.(p.35) Assim contextualizadas, cabe ainda ressaltar que as produções textuais estão relacionadas aos parâmetros da situação de ação de um agente (ação de linguagem como unidade psicológica). A mais geral das decisões do agente consiste em escolher, dentre os gêneros de textos disponíveis na intertextualidade, aquele que lhe parece o mais adaptado e o mais eficar em relação à sua situação de ação específica. (p.99-100). O conjunto de gêneros de textos elaborados pelas gerações precedentes é denominada intertexto, e como tal, é utilizado, transformado e reorientado pelas formações sociais contemporâneas. É portador de valores de uso em uma determinada formação social. Essa nebulosa de gêneros indexados constitui um reservatório de modelos textuais, ao qual o agente de uma ação de linguagem deverá necessariamente recorrer (p.108). O agente que realiza uma ação de linguagem deve colocar em interface o conhecimento sobre sua situação de ação e sobre os gêneros de textos, tal como são indexados no intertexto e tal como mobilizam os recursos e os pré-construtos particulares de uma língua natural. Esse processo acaba na produção de um texto empírico que é produto dialético entre contexto de ação, representações da língua e gêneros de texto. Tem um correspondente verbal ou semiótico, apresentando características comuns ao gênero (modelo) e propriedades singulares que definem o estilo particular do agente. A produção de cada novo texto empírico contribui para a transformação histórica permanente das representações sociais referentes não só aos gêneros de textos (intertextualidade), mas também à língua e às relações de pertinência entre textos e situações de ação.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES DIDÁTICAS PROPOSTAS POR BRONCKART (p.83-89) • Qualquer intervenção didática implica na articulação: – da situação de ensino de uma matéria, isto é, da história de onde ela provém, – das restrições atuais do sistema escolar em que essa situação se insere (práticas escolares e agentes do sistema: pais, alunos...) • Toda a proposição de renovação didática deve considerar os processos de aprendizagem e de desenvolvimento da criança-aluno. • O desenvolvimento de conhecimentos e de práticas novas exige o contato com os modelos a serem adquiridos (ocorrendo no aprendiz por generalização e por conceitualização – construção de sistemas de representação sucessivos). • Diante da impossibilidade social de modificar radicalmente o estatuto e o predomínio do ensino gramatical e considerando os processos de aprendizagem efetivamente desenvolvidos pelos alunos, Bronckart afirma (p.88) que o ensino da língua só pode evoluir na direção de um compromisso, com dois eixos paralelos, incluindo a realização de atividades: – De inferência e codificação que levem a um domínio das principais noções e regras do sistema da língua, e, – De sensibilização às condições de funcionamento dos textos em seu contexto comunicativo, levando-se, localmente, à conceitualização de algumas regras de planificação e de textualização (tempos verbais, organizadores...)

Fonte: BRONCKART, Jean-Paul. Atividades de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo / Jean-Paul Bronckart; trad. Anna Rachel Machado, Pericles Cunha. – São Paulo: EDUC.

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