Ana Clara acordou em uma típica manhã de inverno deste hemisfério. Chuva leve e a penumbra de que havia sido noite há pouco. O ar gelado cortava os corredores de sua casa até a busca pelo lavabo, a fim de esvair-se de seus sonhos noturnos e receber os primeiros raios de sol da manhã.
Lavou-se e amaciou, suavemente, as maçãs do rosto. Era um costume mais que decenal, era um rito matinal. Olhar-se, bem de perto, ver o reflexo de sua beleza interior.
Meticulosamente, começou a pentear seus cabelos, desembaraçando-os, quando necessário; amaciando-os, sorrateiramente nas pontas, para dar um efeito vibrante de seus cachos desfeitos pelo acometimento noturno aos cabelos das belas. A noite sempre transforma o cabelo das mulheres.
Ana caminhou até a cozinha. Os primeiros feixes de sol já despontavam lá fora. A janela estava entreaberta, convidando o frio matinal para entrar e propagar os primeiros e suaves aromas do café que preparava. Ouvia, lentamente, os primeiros gemidos de sua mãe, que, ao acordar, anunciava a deliciosa noite de sono que as ervas lhe proporcionavam.
Ana tinha uma certeza: aquela manhã seria diferente.